De volta à rodovia

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Na tarde da última sexta-feira um acidente no km 98 da rodovia Raposo Tavares, na pista expressa no sentido Interior/Capital, voltou a ganhar destaque no noticiário, com direito a fotos e manchete na capa deste jornal. Por motivos ainda desconhecidos, ocorreu um engavetamento envolvendo caminhões, ônibus, automóveis, uma Kombi e duas picapes que deixou nada menos que 45 pessoas feridas, sendo duas em estado grave.

O acidente com dez veículos ocorreu perto do acesso a Votorantim, em local de forte declive e envolveu um veículo de inspeção da própria concessionária CCR-ViaOeste, que chegou a tombar na pista, e um caminhão que supostamente estava a serviço da concessionária e transportava material de sinalização de pista.

O engavetamento causou um grande congestionamento e praticamente paralisou o trânsito por aquela pista durante horas em um dia tradicionalmente movimentado.

O local onde aconteceu esse acidente é um dos mais perigosos entre tantos que existem no trecho que corta a zona urbana de Sorocaba. No acidente da última sexta-feira, bastou um veículo ter problemas e precisar diminuir a velocidade para provocar as colisões em sequência.

Geralmente esse tipo de acidente ocorre quando há algum problema na pista e veículos de pequeno porte diminuem a velocidade ou param, enquanto que caminhões ou carretas não conseguem diminuir a velocidade, especialmente se estiverem carregados. Nesse trecho da via expressa existe ainda um suporte de radar de concreto, construído há mais de uma década e que estaria desativado há muito tempo.

Mesmo assim, a presença daquele suporte assusta motoristas menos avisados que freiam bruscamente, aumentando consideravelmente o risco de colisão traseira. Esse engavetamento envolvendo dez veículos na tarde da última sexta-feira foi mais um dos vários acidentes registrados no trecho urbano somente nos 15 primeiros dias de fevereiro.

Nesse curto período tivemos um grande congestionamento por conta de uma carreta quebrada no km 92,5; um caminhão que pegou fogo e provocou transtornos no km 99; a colisão entre um ônibus e uma caminhonete no km 100 e o capotamento de um automóvel, no 102, além de outras ocorrências de menor gravidade, mas que revelam como o trecho é perigoso.

Segundo a Agência de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp), as concessionárias do Estado mantêm um Programa de Redução de Acidentes (PRA), que fazem parte dos contratos de concessão. De acordo com a agência são ações que vão desde pequenas intervenções estruturais até o reforço da sinalização e fiscalização de trânsito, além de atividades de educação no trânsito.

Com relação ao trecho urbano da Raposo Tavares, onde ocorre a maioria dos acidentes, o PRA apresentado pela concessionária ViaOeste prevê para o biênio 2020/2021 ações operacionais relacionadas a melhorias em acessos, lembrando a complexidade dos projetos por conta da interação do tráfego urbano e rodoviário.

Também questionada sobre a sequência interminável de acidentes, a ViaOeste afirma ter investido, desde o início da concessão até julho de 2019, R$ 520 milhões em obras para melhorar o tráfego e oferecer maior segurança aos usuários. A empresa lembra que além da duplicação parcial da rodovia implantou vias marginais entre o km 92 e o km 106, melhorias nos dispositivos de entroncamento e retorno, além da instalação de defensas metálicas, passarelas e ações de conservação do pavimento e sinalização.

A ViaOeste realmente investiu em melhorias no trecho nos últimos anos, embora com discutível qualidade técnica em alguns trechos. Para se ter ideia dos riscos da rodovia basta analisar a ligação entre a rua Antônio Aparecido Ferraz e a pista marginal da rodovia.

Não há pista de aceleração e os carros são obrigados a disputar espaço com veículos pesados que trafegam em alta velocidade no trecho em declive. Um local perigosíssimo. A ViaOeste ganhou a concessão do bloco composto pelas rodovias Castelo Branco e Raposo Tavares em 1997.

Em troca da exploração do pedágio das duas rodovias teria de construir as avenidas marginais da Castelo Branco, entre Barueri e São Paulo, e duplicar a Raposo Tavares entre São Roque e Araçoiaba da Serra. Essa duplicação deveria ter sido concluída em 2001, segundo a previsão inicial.

Como a concessionária mencionou os valores gastos com benfeitorias na Raposo Tavares, cabe a pergunta: quanto a empresa faturou durante 23 anos com os pedágios das duas rodovias? Certamente não foi pouco, mais do que suficiente para cumprir o compromisso de duplicação da Raposo e fazer uma revisão geral nessa rodovia com a readequação dos pontos mais perigosos onde têm ocorrido acidentes e mortes.

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