Piquet X Hamilton: caso reacende debate sobre punir racismo recreativo

0
204

A ofensa disfarçada de piada, de brincadeira. O preconceito que machuca e diminui o outro e está enraizado no discurso “todo mundo fala assim”, “eu tenho até um parente que chamo desse jeito”.

O episódio no qual o ex-piloto brasileiro Nelson Piquet se referiu ao piloto Lewis Hamilton como “neguinho” reacendeu o debate sobre a necessidade de “mudar a mentalidade”, como o próprio inglês pediu em publicação nas redes sociais.

O país já discute a criminalização do chamado “racismo recreativo”. Trata-se da prática de fazer “piadas” e “brincadeiras” com cunho racial e ofensivo. Ocorre quando a pessoa associa a outra às características, físicas e culturais, das pessoas negras ou indígenas como algo inferior ou desagradável.

“São formas pejorativas de diferenciação por meio da raça. Você tira o nome do preto e o chama de apelidos como “nego”, “neguinho”. Faz isso como se não tivesse problema algum. Mas isso machuca. Preto tem nome e sobrenome”, explica a professora de relações raciais da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Católica Kelly Quirino.

Veja o pronunciamento de Hamilton sobre a declaração de Piquet:

Lewis Hamilton se pronuncia no Twitter sobre caso de racismo

Crimes raciais

O Projeto de Lei (PL) 4.566/2021, que endurece as penas de crime raciais, além de tipificar o crime de injúria racial quando cometido em locais públicos ou privados de uso coletivo, aguarda votação na Câmara desde maio. O texto já foi aprovado pelo Senado Federal.

A proposta altera a Lei do Racismo para acrescentar um artigo tipificando a conduta de injuriar alguém, ofendendo a dignidade ou o decoro, em local público ou privado, com a utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

O PL estabelece pena de reclusão de dois a cinco anos e multa para os crimes. A nova pena, se aprovada na câmara, valerá para os casos de injúria que ocorrerem durante a prática de atividades esportivas, religiosas, artísticas ou culturais. Além da detenção, o condenado será proibido de frequentar os locais destinados a eventos esportivos e culturais por três anos.

Poderá haver acréscimo adicional de um terço à metade da pena quando a injúria tiver objetivo de “descontração, diversão ou recreação”, ou então quando for praticada por funcionário público no exercício da função.

“Esse caso reascende a necessidade de criminalizar o racismo recreativo. Essa tipificação dentro do racismo, que é um crime inafiançável,  acontece o tempo todo e as pessoas não veem como problema”, lamentou Kelly Quirino.

Piquet X Hamilton

Nesta semana, veio à tona entrevista de 2021 em que o ex-piloto brasileiro Nelson Piquet se referiu ao piloto Lewis Hamilton com o termo racista “neguinho”. Em comunicado, Piquet declarou que o “termo utilizado é amplamente e historicamente utilizado coloquialmente no português brasileiro como sinônimo para ‘cara’ ou ‘pessoa’, e nunca teve a intenção de ofender”.

Piquet pediu “desculpas de todo coração a todos que foram afetados, incluindo Lewis, que é um piloto incrível”. Na ocasião, o brasileiro usou o termo “neguinho” ao menos duas vezes para se referir ao heptacampeão Lewis Hamilton.

“O neguinho meteu o carro e deixou porque não tinha jeito de passar dois carros naquela curva. O neguinho deixou o carro. Ele fez de sacanagem. A sorte dele é que só o outro [Verstappen] se f*deu”, afirmou Piquet no canal Motorsports Talk.

O acidente que Piquet comentava aconteceu quando Hamilton e Verstappen disputavam o primeiro lugar em uma corrida. Piquet é sogro de Verstappen.

Após o comentário de cunho racista, o ex-piloto e tricampeão da F1 foi banido de frequentar o paddock de todas as provas da principal categoria do automobilismo mundial.

Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.

O post Piquet X Hamilton: caso reacende debate sobre punir racismo recreativo apareceu primeiro em Metrópoles.

Artigo anteriorComo pensa a população de rua que tirou título para votar em 2022
Próximo artigoBRB: créditos imobiliários batem recorde de R$ 1,45 bi no 1º semestre