Crítica: 15h17: Trem para Paris reencena ato salvador de heróis comuns

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    15h17: Trem para Paris, novo filme dirigido por Clint Eastwood, propõe algo que não se vê com tanta frequência no cinema popular americano, aquele que habitualmente chega às nossas telas.

    O veterano escalou Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos, cidadão americanos, nos papéis deles próprios: três homens que evitaram que o pior acontecesse em um ataque terrorista a um trem que saiu de Amsterdã em direção a Paris, em 21 de agosto de 2015.

    O criminoso carregava dezenas de cartuchos de bala e preparava no mínimo um massacre, mas foi contido pelo trio de amigos de infância – dois deles militares de folga na Europa.

     

    Stone, tratado como protagonista da história, já que diretamente foi o primeiro a deter o autor do atentado, estava lotado em Portugal. Skarlatos, do exército, reclamava do tédio no Afeganistão. Sadler, civil morando nos Estados Unidos, juntou-se a eles para uma mochilão pela Europa.

    Para o bem e para o mal, há um certo ruído gerado pela encenação de Eastwood. Há algo tão caseiro quanto genuíno nas atuações, entregues propositalmente por não profissionais, o que torna a narrativa ao mesmo tempo realista e ingênua.

    Os heróis do presente
    Eastwood, como diretor, errou pouquíssimas vezes na carreira. Ao longo de décadas, depurou um estilo tão decantado quanto desencantado, baseado em atuações fortes e crônicas que envolvem em geral trabalho e personagens sociais. Ele aplica este mesmo interesse a 15h17, com foco especial no mais promissor do trio, Spencer.

    Até por isso, boa parte do filme sequer diz respeito à ação pela qual os três receberam a Legião de Honra. Vemos o trio desde a infância atribulada em Sacramento, na Califórnia – Spencer e Skarlatos são filhos de pais divorciados – aos vultos de impetuosidade na juventude, em busca de carreira profissional e novas experiências de vida.

    Eastwood, perto dos 88 anos, tem a coragem de construir um longa inteiro ao redor de pessoas comuns responsáveis por um ato de bravura que salvou vidas.

    É como se o diretor buscasse, em 15h17, a versão mais direta e pura do filme que já dirigiu diversas vezes: gente simples destinada a grandes feitos, a gestos grandiosos de heroísmo, e algo atormentadas por essa mesma excelência, como o piloto de Sully: O Herói do Rio Hudson (2016), o atirador de Sniper Americano (2014) e o caubói pregador de O Cavaleiro Solitário (1985).

    15h17, ao contrário dos melhores filmes do diretor, acumula certos entulhos narrativos ao tentar essa abordagem radical de reencenar a vida real por meio dos “atores” do presente. Ao mesmo tempo, a estranheza que o filme exala o torna único mesmo dentro de uma carreira consagrada por tantas obras de vulto.

    Avaliação: Bom

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