A inflação do setor dos serviços acelerou novamente em abril e atingiu 6,94% no acumulado de 12 meses. A subida pode levar a área para um patamar visto apenas em 2015, quando fechou em alta de 8,1%.
O cenário pesa no bolso do consumidor, além de fazer com que o nível elevado de preços seja um desafio para o alinhamento da inflação à meta de 2022 (3,5%).
De 2002 a 2016, o setor de serviços apresentou uma média de inflação de 7%. De 2017 a 2019, houve recessão e a média caiu à metade, para níveis parecidos com o crescimento econômico. A pandemia, no entanto, causou forte impacto sobre os serviços e, após a reabertura econômica, os preços escalaram.
Especialistas consultados pelo Metrópoles apontam 10 motivos que explicam o aumento significativo nos preços.
1) Pandemia
César Bergo, coordenador de pós-graduação em mercado financeiro e capitais da Faculdade Mackenzie Brasília (FPMB) e presidente do Conselho Regional de Economia da 11ª Região, destaca a importância de saber distinguir entre aumento de preço e inflação.
Com uma oferta maior nas épocas de safra, o preço dos produtos tende a cair. Da mesma forma, o valor cresce nas demais épocas. Já a inflação se caracteriza como um fenômeno onde há aumento generalizado de preços seja por inflação, manipulação ou outros fatores econômicos.
“No caso atual, tanto o alimento como o combustível tiveram um aumento em função da questão da pandemia”. Isolamento social e distanciamento são responsáveis pela queda repentina no consumo, avalia o professor. “Com isso, a produção foi reduzida e muitas indústrias tiveram dificuldades. Isto afetou drasticamente a produtividade das empresas”, explica Bergo.
“De repente a economia começou a retomar o curso normal em função da vacinação, da melhoria das condições de saúde e aí a atividade econômica retornou em alta velocidade. Então, os preços subiram pressionados exatamente por essa melhora no cenário econômico, mas isso foi um fenômeno mundial.”
2) Guerra no leste europeu
A invasão da Ucrânia pela Rússia, que se estende desde 24 de fevereiro deste ano, é apresentada por Bergo como outro aspecto importante a ser considerado na análise sobre o aumento de preços no Brasil.
De acordo com o economista, o confronto pressionou decisivamente o preço das commodities e do petróleo. Consequentemente, o valor do combustível foi afetado no mundo inteiro. A retomada “desordenada” das atividades com a chegada das vacinas é mais um fator que explica o aumento de combustível.
3) Aumento no custo de transporte
A cadeia de consumo é complexa e composta por diversos integrantes. Conforme explica Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, agência classificadora de risco de crédito, o aumento do diesel acaba sendo repassado para o preço final do consumidor.
Agostini dá um exemplo de como isso funciona:
“Vamos supor que estejamos na safra de tomate. O produtor rural vende a 50 centavos para o comprador que vai intermediar a venda para o entreposto, que, por sua vez, vende por 2 reais. Por fim, o Ceagesp faz a venda por 4 reais. Quando aumenta o custo do diesel, a caixa que o produtor vende para o intermediário continua 50 centavos, mas o custo de transporte até o Ceagesp sobe e afeta o preço final.”
4) Incertezas fiscais para 2023
André Perfeito, economista-chefe da Necton, aponta os riscos fiscais para 2023 como alguns dos fatores do aumento dos preços no Brasil. Segundo um levantamento do jornal Valor Econômico, os riscos fiscais mapeados para o próximo ano somam R$ 168,8 bilhões.
5) Escassez hídrica no Brasil
Em decorrência da pandemia e dos períodos de seca e geadas no país, o governo havia determinado a bandeira vermelha, ou bandeira de Escassez Hídrica, de setembro de 2021 até abril deste ano. No ano passado, o Brasil viveu a pior crise hídrica em 91 anos. As principais bacias hidrográficas que abastecem o país estavam secando em razão do baixo volume de chuvas na região dos reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste.
O fenômeno teve efeito direto sobre a produção de alimentos, que caiu, fez a oferta diminuir e os preços dispararem.
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6) Energia mais cara
Outro efeito da crise hídrica foi o aumento no preço da energia, com o novo valor de R$ 14,20/100 kWh. Até então, a bandeira vermelha patamar 2 era a mais cara do sistema. Em vigor desde junho, a tarifa já tinha acréscimo de R$ 9,49 a cada kWh na conta mensal. No entanto, com a criação da bandeira de escassez hídrica, houve alta de 49,63% em relação à vermelha patamar 2.
7) Retorno abrupto das atividades econômicas
A chegada da vacina e a melhoria das condições de saúde possibilitou uma retomada econômica. César Bergo ressalta que a alta velocidade de recuperação fez os preços subirem, pressionados pela melhora no cenário econômico.
8) Má gestão das finanças públicas
Bergo aponta um outro fator, desta vez interno, que contribuiu para a inflação: a gestão de finanças públicas, com elevados gastos governamentais. A soma dos fatores, segundo ele, cria um ciclo vicioso que provoca aumento generalizado de preços.
9) Desvalorização do real
Para Agostini, os produtos sofreram altas por causa da desvalorização do real em 2021. Mesmo com a retomada em 2022, diz ele, os preços continuaram subindo devido aos preços das commodities determinados no cenário internacional.
A última vez que o dólar registrou um bom resultado foi em 2016, quando encerrou o ano com queda de 17,69%. Depois disso, o mercado observou cinco altas consecutivas, de 2017 a 2021.
10) Aumento no preço das commodities
Conforme dito no item anterior, Agonisti explica que as commodities possuem preços determinados no exterior devido às negociações realizadas nas bolsas de valores do mundo inteiro. O preço das commodities agrícolas subiu significativamente durante a pandemia devido à preocupação com desabastecimento e abalos na cadeia de produção.
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