Vale a pena tomar a vacina contra HPV depois de iniciar a vida sexual?

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O papilomavírus humano (HPV) é considerado a causa mais comum de infecção sexualmente transmissível (IST) da atualidade. Alguns tipos do patógeno são responsáveis, inclusive, por desencadear o desenvolvimento de cânceres. Para prevenir a contaminação, a recomendação internacional é vacinar crianças e adolescentes antes do início da vida sexual, quando ainda não foram expostos ao vírus.

Mas isso não significa que mulheres e homens sexualmente ativos não se beneficiem da imunização — a vacina está disponível na rede privada para pessoas fora dos grupos previstos no Programa Nacional de Imunizações (PNI).

“Embora todos os programas do mundo sejam focados na faixa etária que ainda não iniciou a atividade sexual, sabemos que é extremamente raro estar infectado com os quatro tipos mais comuns do vírus e não ter os benefícios da vacinação”, afirma a médica pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi.

Existem mais de 200 tipos de HPV catalogados pela ciência até o momento, e nem todos são considerados perigosos para a saúde. As vacinas incluem as cepas mais comuns e graves — mesmo que uma pessoa já tenha sido infectada, dificilmente desenvolveu proteção contra todas as variantes agressivas do vírus e, por isso, a imunização é recomendada.

Como toda vacina, a fórmula dos imunizantes contra o HPV ensina o organismo a criar uma defesa robusta e personalizada contra o invasor. Estudos sobre a eficácia das vacinas têm mostrado importante redução nas taxas de infecção, doenças pré-neoplásicas, cirurgias cervicais e de câncer do colo do útero invasivo associados aos tipos de HPV prevenidos pelos imunizantes.

A fórmula também ajuda a evitar que pacientes infectados e tratados anteriormente voltem a apresentar lesões após o tratamento. “Existe o risco de células infectadas serem reativadas e o paciente sofrer a recidiva”, explica a médica.

Vírus muito comum

Estima-se que 80% das pessoas tenham contato com alguma das versões do HPV ao longo da vida. Mais de 90% delas eliminam o vírus espontaneamente, sem desenvolver sintomas ou sequer desconfiar que foram contaminadas — mas esses indivíduos correm o risco de ser reinfectados.

Para outras pessoas, a infecção pode ter consequências mais sérias, causando verrugas genitais ou câncer de colo de útero. O vírus também está associado ao câncer de pênis, vulva, vagina, ânus e orofaringe. “Por isso, a vacinação é importante mesmo para quem já teve infecção ou lesões”, ressalta Mônica.

Vacinação no Brasil

O calendário do PNI é voltado apenas para as meninas e meninos com idades entre 9 e 14 anos, com duas doses em seis meses de intervalo, visando oferecer a proteção antes do início da vida sexual. Sabe-se que a maioria das pessoas é infectada pelo HPV logo após o início da atividade sexual.

O Sistema Único de Saúde (SUS) também oferece o imunizante para as pessoas imunocomprometidas de até 26 anos ou de até 45 anos a depender da causa da imunossupressão.

As mulheres e os homens fora desta faixa etária ou grupo prioritário podem ser imunizados na rede privada. As vacinas disponíveis têm indicação em bula para uso em todas as pessoas com 9 a 45 anos. Elas devem tomar três doses, no intervalo de dois meses entre a primeira e a segunda, e seis meses para a terceira.

Existem três vacinas contra HPV licenciadas no Brasil. A bivalente HPV2, fabricada pela GSK, abrange os tipos 16 e 18, mas teve a comercialização interrompida no Brasil em 2021.

A quadrivalente HPV4, da MSD, com ação contra os tipos 6, 11, 16 e 18, faz parte do calendário da rede pública desde 2014. E a nonavalente HPV9, da MSD, que inclui também os tipos 31, 33, 45, 52 e 58, está disponível apenas na rede privada.

Imunização abaixo da meta

Dados de um estudo da Fundação do Câncer divulgado no último domingo (26/3) mostram que todas as capitais e regiões brasileiras estão com a vacinação contra o HPV abaixo da meta estabelecida pelo PNI e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O levantamento tem como base os registros de vacinação de meninas entre 9 e 14 anos, no período de 2013 a 2021, e meninos de 11 a 14 anos, entre 2017 e 2021. Para elas, a cobertura vacinal foi de 76% para a primeira dose e 57% para a segunda dose. Para eles, é ainda mais baixa: 52% e 36%, respectivamente.

Os pesquisadores estimam que, no ritmo atual, o Brasil não conseguirá atingir a meta de cobertura vacinal necessária para a eliminação da doença até 2030.

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