Caravana da CNI e do Sebrae mapeia desafios e oportunidades de inovação de cada região do Brasil

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Jornada Nacional de Inovação da Indústria está percorrendo todos os estados brasileiros com a missão de mapear e impulsionar a transição para o futuro verde e digital

Por CNI e Estadão Blue Studio

Uma grande viagem por todos os cantos do Brasil para conhecer e dar voz a quem está criando novos negócios e novas possibilidades para a indústria: essa é a Jornada Nacional de Inovação da Indústria, um projeto ambicioso e inédito desenvolvido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Os objetivos são mapear o estado da arte da inovação para a indústria no Brasil, conhecendo in loco experiências inspiradoras e promovendo o diálogo entre protagonistas desse processo, espalhados pelos mais diversos rincões do País.

Iniciada em julho, a caravana já passou por mais de 30 cidades das regiões Sul, Centro-Oeste e Nordeste. A programação segue pelos estados do Sudeste e do Norte até março. Serão visitadas 80 cidades em todas as 27 unidades da federação.

Um dos diferenciais da Jornada é o roteiro que não se limita às capitais – passa também por outras importantes cidades de cada estado, com o propósito de revelar como o interior brasileiro é rico em empreendimentos inovadores. A ideia é dar visibilidade, principalmente, a cases com aplicação na transição digital e ecológica. “Conectar os diversos atores dos ecossistemas regionais tem sido um caminho promissor em busca de soluções concretas para os desafios reais da indústria”, avalia Jefferson Gomes, diretor de Desenvolvimento Industrial, Tecnologia e Inovação da CNI, que participou de boa parte dos eventos da Jornada realizados até agora e segue “na estrada” ao lado da equipe.

A programação dos encontros, em cada cidade, envolve painéis, workshops e apresentações sobre soluções e desafios para o cenário de inovação tecnológica no Brasil. Cria-se um ambiente de escuta ativa para fomentar o diálogo qualificado entre líderes de empresas de matriz tecnológica, representantes de deep techs (startups que trabalham com tecnologias baseadas em conhecimentos científicos com alta complexidade de desenvolvimento), indústrias de diferentes portes, pesquisadores, investidores e fundos de inovação, representantes de organizações internacionais e nacionais de inovação, entidades governamentais, instituições científicas e tecnológicas (ICTs) e parques tecnológicos. Projeta-se a participação total de mais de 4 mil pessoas em todo o País.

Raio X da inovação

A Jornada é um projeto desenvolvido pela CNI, em parceria com o Sebrae Foto: Divulgação/CNI

Além dos benefícios imediatos, como impulsionar o networking e divulgar as iniciativas em evidência em cada região, a Jornada tem a missão de produzir um documento-síntese a ser apresentado no 11º Congresso Nacional de Inovação da Indústria, em março de 2026, em São Paulo. “Será um raio X da vida real da inovação no País”, projeta o diretor da CNI. O documento será apresentado, também, aos candidatos à presidência da república, com o propósito de ajudá-los a entender como a inovação poderá ser incluída nos programas de governo. “Ao mesmo tempo em que respeita as especificidades locais, a Jornada projeta uma agenda nacional para a transição ecológica e digital”, acrescenta Gomes.

Para Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae, a Jornada contribui para transformar um paradigma – a histórica concentração do ecossistema de inovação brasileiro nos grandes centros. “A Jornada rompe essa lógica ao levar o debate e as oportunidades de inovação para os territórios, revelando o potencial de estados e regiões fora do eixo tradicional. E democratiza o acesso à inovação, permitindo que os pequenos negócios participem de um movimento nacional de transformação”, avalia Quick. “É o Brasil se olhando no espelho e descobrindo que a inovação está em todas as regiões, em todos os sotaques e em todos os tamanhos de empresa”, acrescenta o diretor do Sebrae.

Por conta da riqueza e da diversidade dos cases que vêm sendo revelados nos encontros realizados nas mais diversas regiões, Quick afirma que a Jornada Nacional da Inovação da Indústria já pode ser considerada um marco na promoção de um ecossistema inovador no País. “A ideia de percorrer todas as unidades da federação, de forma itinerante, faz da Jornada uma ação plural, com espaço para acolher as diferentes particularidades de cada lugar do País”, avalia Quick. “Mesmo com todas as dificuldades que o empreendedorismo enfrenta no Brasil, temos deparado com exemplos impressionantes e surpreendentes de inovação”, acrescenta Gomes.

A Jornada foi concebida nos encontros da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), que faz parte do Juntos pela Indústria, projeto de convergência estratégica do Sistema Indústria. Além de CNI e Sebrae, também participam desse esforço o Serviço Social da Indústria (Sesi), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL). A caravana conta com o apoio de comitês estaduais, formados por representantes das federações das indústrias, do Sebrae e de parceiros locais, para garantir que cada encontro reflita a identidade regional, com desafios e soluções que levem em conta as especificidades locais.

Jornada revela histórias impressionantes de empreendedorismo

Oferecer às indústrias todo o potencial de inovação que existe no fundo do mar. Essa é a missão da deep tech Regenera Moléculas do Mar, sediada em Porto Alegre (RS), uma das participantes da Jornada Nacional de Inovação da Indústria. “Foi muito impactante a oportunidade de participar da Jornada”, diz o fundador e diretor-presidente, Mário Frota Jr. “Percebe-se que é um movimento genuíno para dar voz aos empreendedores da inovação e apoiar o que sabemos e gostamos de fazer, que é inovar.”

A história da Regenera começou no doutorado de Frota Jr. em Bioquímica, quando ele isolou uma molécula com propriedades anticâncer que encontrou em uma esponja marinha. “Percebi ali o imenso potencial que há no fundo do mar para a descoberta de inovações. É por isso que chamo o mar de ‘Amazônia azul’.” Para explorar essas possibilidades, ele fundou a empresa em 2011, ao lado de um professor que apostou na ideia. O início envolveu um perrengue burocrático: foi preciso esperar mais de três anos pela concessão da licença para investigar o mar para fins de exploração econômica.

O longo período foi aproveitado por ele para aprofundar os estudos, divulgar a ideia entre possíveis clientes e aprender a mergulhar, já que ele fazia questão de ir coletar pessoalmente as amostras. Hoje, ao final da primeira década de atividades da Regenera, a coleção é composta por cerca de 3 mil micro-organismos, que proporcionam um número infinito de moléculas e de combinações com as mais diversas propriedades e possíveis aplicações. “Nunca deixamos uma empresa sem resposta sobre a aplicação imaginada. Tudo o que é possível já está aqui no nosso banco; só precisamos pesquisar”, define Frota Jr.

Alguns exemplos são as parcerias com indústrias para desenvolver medicamentos contra bactérias resistentes, soluções para bebidas funcionais, insumos para o agronegócio e até um protótipo de sinalização rodoviária com o uso de bioluminescência. Finalista em duas categorias do Prêmio Finep de Inovação 2025, com R$ 70 milhões em gestão no momento, entre faturamento e receitas em geral, a Regenera tem hoje uma equipe de 25 pesquisadores, todos com doutorado ou em fase de doutoramento.

Resíduos orgânicos

Outro case que impressionou os organizadores da Jornada é a BioUs Biotech, de Goiânia (GO), com núcleos de desenvolvimento também em Piracicaba (SP), em Portugal e na França. A empresa obteve o 2º lugar mundial no Digital Innovation Alliance (DIA) do G20 Grand Summit, na categoria Economia Circular, na África do Sul, após ser escolhida pelo Ministério das Relações Exteriores para representar o Brasil por conta do projeto de biofábrica que transforma resíduos em bioplásticos e biofertilizantes.

A empresa surgiu para transformar um problema – os resíduos orgânicos industriais – em solução: a produção de um biofertilizante líquido e de um bioplástico 100% biodegradável, que desaparece da natureza em nove semanas. “Para facilitar o processo nos clientes, tudo é feito in loco, dentro de um contêiner, sem necessidade de transporte dos resíduos”, conta o fundador e CEO, o bioquímico Raimundo Lima. A ideia de criar uma versão itinerante do processo surgiu a partir das dificuldades para obter o licenciamento ambiental na estratégia convencional – mais um exemplo da incrível capacidade que o empreendedor brasileiro tem para, muitas vezes, transformar limões em limonada.

 

Fonte: Tudo Ok Noticias

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