Manjedoura

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Manjedoura
Crédito da foto: Reprodução / Álbum de Família

Vanderlei Testa

A chegada do Natal nos leva a presépios. Faltam quatro dias para a maior data da cristandade. Ainda dá tempo para buscar a inspiração dos momentos de manjedoura que vivemos desde o nosso nascimento. Na história de Maria e José e o nascimento do menino Jesus, encontramos a figura da manjedoura. Foi o berço que acolheu o Filho de Deus desse momento histórico ocorrido em Belém. A manjedoura servia de local à alimentação de animais. Coloquei a minha cabeça para refletir naquele dia há 2020 anos. Um estábulo dos mais rudimentares, chão de terra, cheiro no ar de estrumes dos animais e tudo sem nenhum preparo para um nascimento humano.

A jovem Maria iria ter a sua primeira e única experiência de parto natural. Seu coração estava sereno porque sabia quem estava no seu ventre. Sua preocupação de mulher deveria estar na criança, pois como mãe, que carregou nove meses o bebê, entendia muito bem que naquele espaço não havia nada de condições de higiene. Simplesmente acreditou que os anjos estavam presentes e transformariam a manjedoura na mais bela cama, perfumada com as mirras das flores celestes. Maria, a jovem que disse sim ao anunciado da sua missão como mãe, brotando do seu coração as palavras ao anjo Gabriel “eis aqui a serva do Senhor” e “faça-se em mim segundo a Sua vontade”, não vacilou em se entregar totalmente às dores do parto. José ao seu lado, um carpinteiro acostumado a talhar madeiras, iria delicadamente tocar com suas mãos calejadas o bebê iluminado por graças e bênçãos divinas.

Voltando a 2020, no Natal deste próximo dia 25 de dezembro, fico a imaginar as mães nas manjedouras das favelas e tribos indígenas. Dos acampamentos de migrantes acomodados em barracas de lona. As fugas das famílias em guerra ou da fome, em meio às manjedouras sub-humanas dentro de barcas no alto mar. Agora, em terras ricas da Europa e outros continentes, as famílias continuam neste planeta Terra, encontrando a mesma manjedoura de Belém sem nenhuma infraestrutura de higiene e acolhimento.

Os momentos de manjedoura em ambientes saudáveis de maternidade dos hospitais, como, em Sorocaba, são o contrário daqueles da pobreza mundial. Aqui encontramos, como na Santa Casa de Misericórdia, “manjedouras“ com apoio da tecnologia da medicina à sobrevivência digna dos bebês, desde o nascimento em salas equipadas. Equipes de profissionais médicos e de enfermagem estão a postos, dia e noite, para garantir ao máximo o pronto atendimento hospitalar para o nascimento dos bebês.

Recentemente relatamos neste espaço de meus artigos uma breve apresentação da Casa Nossa Senhora das Graças. Contamos um episódio que originou a formação desse lar através do casal Gelfe e Rosângela Franco. A mãe de um menino faleceu e, sem ninguém para cuidá-lo, foi acolhido pelo casal que. inspirado por Deus, iniciou um trabalho que hoje atende mais de 20 crianças desamparadas. As manjedouras da Casa Nossa Senhora das Graças não são iguais, fisicamente, àquela da gruta de Belém, mas são iguais em aconchego de amor. A cada dia, essas manjedouras da casa na rua Francisco Prestes Maia, 320, vê sobre si, chorinhos de crianças amparadas, de crianças nutridas, não com o leite materno, mas com o “leite do amor e de Maria” através da sua magnitude de Mãe Auxiliadora de Todas as Graças.

Nestes dias que antecedem o Natal, vale a pena, também, pensarmos na nossa própria manjedoura. Onde foi que nascemos? Não a maternidade ou a cama de nossa casa, com as mãos da parteira participando do parto como aconteceu comigo. Mas penso na “manjedoura-barriga” de nossas mães. Ali está uma manjedoura viva e única. Feita de um material jamais inventado pelos homens, que é o ventre materno. Durante meses, fomos sendo criados e alimentados pelo cordão umbilical materno. Um canal de amor, sem limites de período de validade, ingredientes manufaturados ou embalagens atraentes.

A manjedoura materna, infelizmente, ainda hoje continua sendo alvo de destruição por muitas pessoas inescrupulosas que buscam,, no aborto eliminar a vida que dá glória a essa graça de ser mãe. Pena que muitas vezes incentivadas pelo pai ou pelo dinheiro.

Se conseguirmos fazer da nossa “manjedoura-coração” o nascimento de momentos felizes, certamente essa decisão tornará possíveis as coisas impossíveis de serem realizadas na existência destes breves anos que passamos vivos. Ao olharmos um presépio e vermos na beleza da obra do artista que o concebeu, mostrando Maria, José e o Menino Jesus, pensemos mais profundamente no que está simbolizando tudo isso. Mais que um símbolo ou arte, mora na manjedoura do presépio uma esperança. A certeza de quem nasceu e retornará um dia, sem que se saiba quando, a verdade e a vida que dividiu o calendário da humanidade em antes e depois de Cristo.

Sejamos como os Reis Magos, em busca da luz da estrela que guia até a manjedoura eterna. O padre Nilo Luza diz que a manjedoura era um lugar periférico, desprezado, junto com os animais. Isso tornava as pessoas impuras — lugar dos pobres. E é lá, onde nasce o novo, a semente de uma nova humanidade, Jesus Cristo. A partir desse lugar, os seres humanos podem encontrar sentido para a vida.

O ano novo 2021 está a dez dias de ser celebrado. A pandemia não nos motiva a comemorar 2020, pelas perdas de entes queridos. Sejamos, então, como filhos e pais, chamados a repensar e a aprender com o Natal. Que a manjedoura nos conduza a eliminar o orgulho, a vaidade, o se achar melhor que outras pessoas de etnias diferentes, aprendendo a viver realmente o Natal como uma data que nos torne melhores, amigos, filhos, esposos, pais e mães, empregados e patrões, políticos e dirigentes de empresas, comunicadores.

Feliz Natal!

Vanderlei Testa é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul e aos sábados no www.blogvanderleitesta.com e www.facebook.com/artigosdovanderleitesta.

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