Assim que foi noticiada a morte da cantora Elza Soares, nesta quinta-feira (20/1), aos 91 anos, o termo Rest in Power tomou conta das redes sociais. O epitáfio é usado por militantes da causa antirracista sempre que um símbolo da comunidade negra falece, e tem sido replicado no adeus à Cantora do Milênio.
Rest in Power, ou descanse no poder (em tradução livre), é uma variação de Rest in Peace, descanse em paz. Mais que uma forma de despedida, é um chamado para que a luta por justiça social não pare. Durante sua trajetória, Elza deu voz não só à causa da igualdade racial, mas também cantou sobre o respeito à diversidade de gênero e pelo fim da fome e desigualdade no Brasil.

Elza Gomes da Conceição nasceu na favela carioca de Moça Bonita, em 23 de junho de 1930

Aos 91 anos, no dia 20 de janeiro de 2022, Elza faleceu de causas naturais, em casa. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da cantora

“A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo o mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”
Michael Melo/Metrópoles

Ao todo, Elza teve sete filhos. Aos 21 anos, Elza já era viúva do primeiro marido e tinha perdido dois de seus filhos, que morreram de fome
Material cedido ao Metrópoles

Mesmo com a dor, Elza presenteou o mundo com seu jeito único de cantar. Ela se tornou uma das maiores cantoras da história da música popular brasileira. Iniciou a trajetória nos concursos de rádio, no anos 1950. Nas décadas seguintes, construiu uma grande trajetória no samba
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Ao longo da brilhante carreira, Elza Soares lançou 34 discos e, nos anos mais recentes, aproximou-se de sons contemporâneos, como o hip-hop e a música eletrônica
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O disco A Mulher do Fim do Mundo foi eleito pelo jornal The New York Times como um dos 10 melhores do ano de 2016. O último álbum dela foi Planeta Fome, lançado em 2019
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A morte da cantora ocorre exatos 39 anos depois da morte de Garrincha, com quem ela foi casada
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Elza Soares e Garrincha, ídolo do Botafogo, viveram um romance cheio de altos e baixos de 1966 a 1982. O relacionamento entre eles começou escondido, pois Garrincha era casado na época e a cantora foi taxada de amante do jogador e responsável pelo fim do matrimônio anterior dele.
A paixão entre os dois durou 17 anos e eles tiveram um filho, Júnior, que morreu em 1986, em um acidente de carro
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Em 1963, ela gravou a canção Eu Sou A Outra, sobre o assunto, sacudindo a sociedade conservadora do Brasil
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Durante a ditadura, Elza e Garrincha precisaram se mudar para a Itália, depois que a casa onde moravam foi metralhada

Lá eles ficaram amigos do casal Chico Buarque e Marieta Severo. De volta ao Brasil, a relação entre Elza e Garrincha foi marcada pelo alcoolismo do jogador e pela violência doméstica

O casamento acabou após 16 anos, em 1982. O jogador morreu no ano seguinte, de cirrose

Ao longo da vida, Elza também se tornou símbolo da resistência negra no Brasil e uma apoiadora da causa LGBTQ. No seu último aniversário, foi homenageada por Beyoncé
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No legado da artista, canções como A Carne, lançada em 2002, e as mais recentes, Brasis e Libertação, do álbum Planeta Fome, são considerados hinos do movimento antirracista brasileiro.
Munidos da hashtag #restinpower, famosos e anônimos deixaram suas homenagens para intérprete. “Fez muito. Fez tudo. Com louvor. Viva Elza!”, escreveu Ptitty, no Twitter. “O verdadeiro ‘Rest in Power’, que poder!”, pontuou o jornalista Arthur Herdy. “A carne mais barata do mercado é a carne negra! Rest in Power Elza Soares”, entoou outro.
A carne mais barata do mercado é a minha carne negra
Rest In Power Elza Soares.pic.twitter.com/5M956dYpIg
— Cláudio Márcio
(@ClaudioMarcio) January 20, 2022
Partida de Elza Soares
De acordo com o empresário Pedro Loureiro, Elza Soares partiu em paz e conversou com os familiares como se soubesse que seria seu último dia ao lado deles. “Eu acho que eu vou morrer”, teria dito a Cantora do Milênio. Ele também revelou que a sambista gravou um DVD nos dias 17 e 18, mas que acordou mais cansada nesta quinta (20/1).
Uma ambulância chegou a ser chamada, após indicação do médico de Elza, mas ela não resistiu. “Foi uma morte tranquila, sem traumas, sem motivo. Morreu de causas naturais. Esse, aliás, era um grande medo dela: ter uma morte sofrida, por doença. Hoje, ela simplesmente desligou”, afirmou Pedro.
O corpo de Elza Soares será velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A cerimônia acontece nesta sexta-feira (21/1), ainda em horário a ser confirmado.
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