Ainda que nem sempre tão divulgado quanto a música popular, o estilo erudito é bastante apreciado em Brasília. Mesmo há anos sem se apresentar em sua casa, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro costuma ser prestigiada semanalmente por centenas de pessoas no Cine Brasília. Outra frente, pouco explorada, é a gravação de obras de artistas da cidade. Cláudia Costa (foto em destaque), cantora lírica atuante no DF, interpreta três compositores da capital em seu novo trabalho de estúdio.
Recém-lançado, o segundo volume do projeto Lírica Brasiliensis – o primeiro saiu em 2015 – dá destaque a peças de música sacra. Para tal repertório, a artista e professora da Escola de Música de Brasília (EMB) recorreu a obras de Beethoven, Debussy e do cearense Alberto Nepomuceno.




Mas sua pesquisa ampliou os horizontes e também contemplou três autores locais: Eduardo Dias Carvalho, Marco AB Coutinho, professores aposentados da EMB – ambos fizeram as obras para Cláudia –, e Pedro Jacobina.
“Nós temos um pequeno polo erudito aqui. Por exemplo, o maestro Jorge Antunes e esse ping pong entre UnB e Escola de Música. O núcleo é forte, apesar de não ser tão divulgado”, diz a paulistana de 53 anos, doutora em História pela UnB e atualmente graduanda em fonoaudiologia na Uniplan.
A ideia de desbravar obras eruditas pouco conhecidas começou dentro da EMB. Um dos projetos de Cláudia envolvia a realização de concertos didáticos. “Comecei a investigar mais a música brasileira e, depois, tomei um caminho mais multicultural”, aponta.
Cada compositor recebeu a interpretação de Cláudia de um jeito diferente. “Jacobina chorou. Marco Aurélio me xingou, me fez gravar de novo”, brinca. “Eduardo disse que poderia melhorar aqui e ali e pediu para mexer em algumas coisas na edição. Dos que já morreram, será que o Beethoven teria gostado?”, especula.
Professor da EMB por 27 anos, Carvalho aposentou-se em 2016, mas retorna à instituição como temporário enquanto lança o primeiro de uma série de três livros de composições próprias. Com 20 partituras, Diálogos Instrumentais I acaba de sair.
“Fico muito feliz de ter uma obra gravada. Participei um pouco da etapa final do processo e sugeri alguns acertos, coisas corriqueiras de produção, trabalho com isso também”, explica o autor, de 59 anos.
Aos 23, Pedro Jacobina teve a sua primeira composição gravada por Cláudia. Ele trabalha com música erudita desde 2013, mas, até então, só teve peças apresentadas no meio acadêmico. E o jovem autor se emocionou com a interpretação da cantora lírica.
“Ela deu a dramaticidade que eu esperava”, diz ele, que pediu ajuda do pai, teólogo, para musicar poema de Machado de Assis. Professor de piano e fotógrafo, o baiano chegou a estudar composição na UnB, mas hoje faz publicidade no UniCeub. Também teve aulas de canto na EMB, quando conheceu Cláudia.
Jacobina enxerga a existência de uma pequena, mas produtiva e talentosa cena musical de Brasília. “Temos muitos bons compositores, que fazem mais sucesso lá fora do que aqui, e muitos musicistas. Mas não há muitas oportunidades, principalmente na área erudita. Não sei se por causa de divulgação ou por causa do gosto do público”, avalia.