Jukebox Sentimental: Luiz Melodia foi figura icônica do samba

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    Divulgação

    Falecido recentemente, vítima de câncer, Luiz Melodia foi artista original de voz e estilo inconfundíveis. Prova disso está documentado em sua obra que começou com grande impacto em 1973, quando lançou a joia rara da MPB, “Pérola Negra”.

    Volta e meia presente na lista de discos marcantes do cancioneiro brasileiro, o álbum desafiou a imaginação sensorial da crítica, que não sabia definir aquela mistura inusitada de várias referências: samba, blues, rock, soul e até forró.

    “A minha grande referência, meu grande encontro, foi o rádio. Sempre presente, tocavam de tudo, desde bolero, até programação nordestina, jovem guarda, enfim”, lembrou o artista no programa “O Som do Vinil”, do Canal Brasil.

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    Tudo começou no início dos anos 1970, quando o poeta e agitador cultural, Waly Salomão, então habitué do Morro de São Carlos, berço do samba onde Luiz Melodia nasceu, ficou encantado com as músicas passionais do jovem magricela de talento singular. O anárquico poeta tropicalista Torquato Neto era outro que não saia da favela e curtia a levada do cara.

    O encontro com essas duas vertentes da cultura brasileira seria importante por dois motivos. Jornalista do extinto “Última Hora”, Torquato Neto andou falando do artista em sua coluna “Geléia Geral”. Já Waly Salomão promoveu o encontro do menino do morro com o asfalto, ao apresenta-lo à nata da Zona Sul. Foi assim que Gal Costa incluiria no mítico show, “Gal Fa-tal”, então dirigido por Salomão, a canção “Pérola Negra”.

    Não demoraria muito para o jovem compositor de versos se tornasse requisitado entre artistas badalados da época, como Sandra de Sá e Zizi Possi.

    Problemas com a censura
    Com capa icônica assinada pelo fotógrafo, Rubens Maia, “Pérola Negra”, o disco, gravado em dois meses, contou com time de músicos experientes. Todos sob o comando do produtor Sérgio Carvalho e do arranjador, Perinho Albuquerque.

    Craques como Luiz Carlos Batera (baquetas), Maurício Einhorn (gaita), Márcio Montarrois (trompete), além do flautista, Altamiro Carrilho, que deram nova roupagem às dez canções que Melodia já tinha prontas no violão.

    Uma delas, “Pra Aquietar”, trouxe na guitarra um nome que poucos anos depois também brilharia nacionalmente como compositor e intérprete. O cantor Hyldon, autor do hit “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” (1975). Na contagiante, “Forró de Janeiro”, o destaque era o multi-instrumentista Damião Experiência.

    A força impactante das letras com versos pessoais e atemporais pode ser conferida, por exemplo, na raivosa, “Vale Quanto Pesa”, um mistura rock bolero confessional.

    “Farrapo Humano”, com suas variações de tempo consciente, é uma crônica visceral sobre desilusão amorosa que deixou a censura incomodada com o refrão passional: “Eu choro tanto/Me escondo e não digo/Viro um farrapo/Tento suicídio/Com caco de telha/Com caco de vidro”.

    Como se vê, um discão para se orgulhar e deixar se encantar. Crônica sensível do cotidiano das ruas e da alma, Luiz Melodia vai fazer falta.

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