Edgard Steffen
O Senhor te ferirá com doenças devastadoras, febre e inflamação…
(Deut. 28:22)
Desde a ameaça da Covid-19, nunca se falou tanto em lavar as mãos. No mundo cristão, talvez a figura mais lembrada por essa ação seja Pilatos. Pediu bacia com água para lavar as mãos antes de entregar Cristo para o supremo sacrifício.
Quando Colombo, em sua 3ª viagem às Índias Ocidentais (1498) chegou à foz do Orinoco, deslumbrou-se com a quantidade de água doce. Nenhum rio da Europa tinha volume comparável àquele. No hemisfério norte, nos países mais setentrionais castigados por rigorosos invernos, os habitantes sabiam de sua dependência à conservação da água e alimentos. Notórios os casos de economia hídrica que chocam a nós, perdulários sul-americanos.
No século 19, médicos não lavavam as mãos. Ao contrário, evitavam lavá-las porque temiam que o excesso de limpeza enfraquecesse sua pele. Nem usavam luvas, máscaras ou aventais (invenções que surgiram após Pasteur). Trabalhavam de casacas ou grossos paletós.
Ignaz Semmelweis, médico húngaro, observou que no Hospital de Viena morriam mais parturientes por febre puerperal quando atendidas por médicos, comparadas às assistidas por parteiras. Reparou que médicos e estudantes de medicina saíam direto da sala de autópsias para a maternidade.
Mesmo sem ter noção da existência de micróbios, demonstrou experimentalmente que o simples fato dos profissionais lavarem as mãos antes de atenderem as parturientes evitava a mortal febre puerperal. Semmelweiss pode ser considerado o pai da moderna assepsia.
Ao patriarca Moisés, podemos dar o título de Pai da Saúde Pública.
No quesito “lavar as mãos”, é o campeão. No Pentateuco, aparecem 63 vezes as palavras kabas (lavar) e rachats (banhar) fazendo parte da lei mosaica. O povo hebreu, deslocando-se pelo deserto durante 40 anos, carecia de água potável e, encontrando-a, economizava ao máximo.
Além de matar a sede de homens e animais, dela precisavam no preparo de alimentos, limpeza de roupas e higiene pessoal. A escassez no ambiente desértico faz as abluções ordenadas pelo patriarca parecerem preciosismo ritual.
Muitas das leis mosaicas são atuais, como se tivessem sido criadas pela OMS de nossos dias. No Êxodo, Deuteronômio e no Levítico, encontramos ordenações em relação à limpeza das habitações, deposição dos excretas, profilaxia da gonorreia e cegueira dos filhos pelo gonococo, proibição de tatuagens, isolamento e quarentena para acometidos por doenças contagiosas, descanso semanal, descanso da terra cultivada, veto ao consumo de certas proteínas animais (suínos, por exemplo), extração do sangue das carnes, preferências por águas correntes às paradas e enfáticas recomendações de lavagem das mãos e pés. Banheira de cobre com água pura era postada frente ao tabernáculo para as abluções dos sacerdotes levitas (Ex. 30:19 e 21).
O nomadismo dos hebreus está ligado à necessidade na criação de um povo forte, resistente às doenças, porque dele nasceria o Filho da Mulher encarregado de esmagar a cabeça da serpente (Gen. 3:15). Quarenta anos necessários para que a geração contaminada pelo politeísmo desse lugar a quem obedecesse ao Deus único, provedor e protetor. Como está registrado em Deuteronômio: “O Senhor afastará de você toda enfermidade, sobre você não porá nenhuma das doenças malignas dos egípcios” (Deut. 7:15).
Independente de sua crença, como você vive no contexto da civilização judaico-cristã, o mesmo “Eu Sou”, que iluminou Moisés, deu inteligência ao homem moderno para vencer enfermidades, venham de onde vierem.
Use a inteligência. Fuja das fake news e obedeça às recomendações oficiais na luta contra o coronavírus.
Fontes: Bíblia Sagrada tradução João Ferreira de Almeida, 1969
Hubbard, R.A. – Moyses e a Medicina Preventiva in blog Leituras para a Vida 07/04/2011
Blainey, G.- Um Breve História do Cristianismo Edit. Fundamento, 2012
Sorocaba, março de 2020
Edgard Steffen é médico pediatra e escritor. E-mail: [email protected]
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