Crítica: “Nojoom, 10 anos, Divorciada” aborda casamentos infantis

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    Divulgação

    Uma das razões para você largar o conforto do seu lar e atravessar a cidade, meu caro, é ir ao Cine Brasília só para conferir o drama “Nojoom, 10 anos, Divorciada”. Primeiro porque não é todo dia que tem um filme do Iêmen nas telonas da cidade. Segundo por conta do tema, ou seja, a escravidão sexual de crianças no país com o consentimento milenar de tradições tão primitivas quanto os homens das cavernas.

    É a história de Nujood Ali, uma menina de 10 anos desesperada que, em abril de 2008, resolveu fazer um pedido inusitado a um juiz da capital iemenita, Sanaa.

    – Quero o divórcio!!

    Apesar de não ter leis no país árabe contra casamentos infantis, o caso sensibilizou o magistrado, a opinião pública e gerou grande repercussão na mídia. Drama narrado em livro pela jornalista Delphine Minoui, a triste trajetória de Nujood Ali é contada no cinema com direção de Khadja Al-Salami, primeira mulher cineasta do Iêmen. No filme, a personagem da vida real se chama “Nojoom”, que significa estrela na língua local.

    “O conhecimento é a luz”
    O casamento dessa menina de 10 anos com um homem que tem o triplo de sua idade é consumado após transação comercial baseada nas palavras do Alcorão. Está escrito ali, em algum lugar das escrituras sagradas muçulmanas, que “casar-se aos 8 anos é um destino” das mulheres que só “trazem a vergonha” para a sociedade. Ahmed, o pai de Nojoom, interpreta à risca esses provérbios.

    Assim, ao invés de brincar de boneca ou pular amarelinha nas ruas com as amigas, Nojoom é submetida a trabalho escravo em seu novo lar sob o jugo do marido violento que demostra indignação no primeiro encontro real desse estranho casal. “É noite de núpcias e você quer dormir?!”, reclama, ele, entre tabefes e palavras hostis.

    Embora a dramatização do tema soe falso, por conta das atuações um pouco mecanizadas dos atores e de diálogos forçados, a essência do filme foi passada com dignidade. Não é apenas sobre as agruras de milhares de mulheres que são vítimas de um sistema medieval, hipócrita e omisso. Fala de como a falta de informação e interpretações equivocadas, cegas e direcionadas por interesses próprios, desde os primórdios, têm conduzido a humanidade às trevas.

    A frase que encerra a fita resume tudo: “O conhecimento é a luz”.

    Vejas os horários de exibição do filme

    Avaliação: Bom

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