
O ministro da Propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels, usava uma máxima em seus discursos que era cínica e implacável: “Uma mentira dita mil vezes acaba se tornando verdade”. Ironicamente, eis uma sentença que pode ser aplicada com perfeição ao personagem judeu Norman Oppenheimer, da comédia trágica “Norman – Confie Em Mim”. Longa que conta a história de um lobista/consultor que vende, veja só… mentiras.
“Do que você precisa?”, costuma perguntar, quando esbarra em algum potencial negociador pelas ruas de Nova York.
É ali, pelas ruas, cafés e lojas da grande metrópole americana que ele constrói sua teia de contato com pessoas que mal conhece, agendando encontros com figurões desconhecidos, fechando negócios que, aparentemente, não darão em nada. Mas seu falso teatro do poder acaba surtindo efeito porque Norman, o tempo todo, está cercado por cúmplices fingidores, que se deixam ludibriar por sua retórica de embrulhão visando interesses pessoais ou coletivos.
“Sou um bom nadador”, diz, quando alguém duvida de seu potencial como articulador entre a esfera política, comercial e religiosa.
Moral da história
Um belo dia, ele tropeça num político israelense (Lior Ashkenazi) em ascensão que está de passagem por Nova York e, num gesto de generosidade esfuziante, lhe compra um chiquérrimo par de sapatos de quase US$ 2 mil. Mas esse ato de simpatia desmedida tem cheiro de investimento. Três anos depois desse encontro, o amigo em trânsito vira primeiro-ministro de Israel e nunca se esqueceria do presente caro que Norman lhe deu.
“A história é cheia de heróis anônimos”, filosofa o poderoso político.
Galã de filmes de sucesso dos anos 1970 e 1980, entre eles, “Cinzas no Paraíso” (1978), “Gigolô Americano” (1980) e “A Força do Destino” (1982), o quase setentão Richard Gere é a isca para o público ver essa trágica e divertida história de um homem que todos conhecem, mas não sabem quem é de fato.
Solitário, de uma vaidade inocente e imprudente, Norman não passa de um chato mitômano compulsivo que não consegue enxergar o ridículo e o perigo de suas investidas constrangedoras. Lembra um pouco o personagem expansivo e passivo de comiseração de John Candy no delicioso “Antes Só do Que Mal Acompanhado” (1987).
Nova-iorquino judeu que, curiosamente, só tinha feito filmes em hebraico, como “Beaufort” (2007) e “Nota de Rodapé” (2011), Joseph Cedar, assim como Woody Allen faz – sem a mesma sofisticação, claro -, apimenta suas tramas com uma abordagem debochada da cultura de seu povo. Está lá, por exemplo, a relação “particular” que seus conterrâneos têm com o dinheiro e com a moral religiosa.
Uma pena que o roteiro, sobre um típico homem ególatra carente dos dias atuais, canse o espectador por conta do personagem maçante de Richard Gere. E não é culpa do ator veterano, que está bem em cena, mas da insistência pretensiosa do diretor de colocar a moral da história acima da realidade, a partir de uma “grandeza ingênua” que esse herói urbano não tem.
Olhe ao redor, chapa. A vida está cheia de Norman Oppenheimer.
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Avaliação: Bom