Há lugar para a produção indígena no mercado de arte atual?

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    Kácio Pacheco/Metrópoles

    Quem visitar a Caixa Cultural encontrará duas galerias do espaço ocupadas por quadros e esculturas produzidas pelos artistas aborígenes da Austrália. São obras produzidas na segunda metade do século 20, feitas por pintores e escultores que movimentam cerca de U$ 200 milhões no mercado de trabalho.

    Constatado o sucesso da produção aborígene australiana, fica a pergunta: há obras indígenas contemporâneas brasileiras no mercado de arte? A resposta se revela difícil, pois não há sequer dados oficiais sobre a presença da arte indígena do país no setor econômico ainda que, de acordo com a Associação Brasileira de Arte Contemporânea, o mercado brasileiro movimente mais de US$ 30 milhões anualmente.

    Eventos expõem o problema nacional. A última edição da S-Arte, maior feira de galerias de arte da América Latina, revelou ser um exemplo do triste cenário. Com mais de 100 espaços expondo no evento, apenas um deles havia acervo dedicado à arte produzida por indígenas: a Coleção BEĨ, que vende mobiliários indígenas produzidos em mais de 20 etnias brasileiras por até R$ 1 mil (cada peça).

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    Acesso
    Doutoranda em em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB), Tatiana Lotierzo afirma que a presença da arte indígena é, de fato, muito tímida no Brasil e que o primeiro passo para reverter isso é permitir o acesso desses artistas a galerias, museus e exposições – o que não ocorre com frequência.

    Como se trata de uma arte intrinsecamente viva, que mobiliza uma série de relações com tudo o que é da ordem do vivente, quando falamos de arte indígena, estamos falando também de cosmopolíticas. A produção indígena é muito mais do que representação de suas próprias culturas

    Tatiana Lotierzo

    Nessa mesma exposição de arte aborígene australiana na Caixa Cultural é possível verificar a problemática. A curadoria da mostra abriu espaço para um artista brasileiro expor. Daí, a surpresa: foi escolhido um quadro de Glênio Lima, artista gaúcho radicado na capital desde os anos 1970 que se inspirou na estética dos Yanomami para produzir o quadro “Fusões”, selecionado na mostra.

    Essa escolha se reflete também em museus do país, que basicamente apresentam artesanatos aborígenes produzidos em épocas passadas ou obras clássicas e contemporâneas de artistas nacionais inspiradas na cultura indígena. É o caso de Bené Fonteles, Claudia Andujar e Ernesto Neto, que fizeram séries sobre o tema e possuem ampla representação nas instituições culturais brasileiras.

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    Mudanças
    Ainda que o mercado de arte traga dificuldades, é possível, sim, encontrar alguns artistas indígenas vencendo barreiras. É o caso de Jaider Esbell e Arissana Pataxó, que venceram em 2016 dois prêmios no PIPA, a premiação de arte contemporânea mais importante do país.

    O índio macuxi da Amazônia Jaider Esbell venceu o prêmio Pipa Online, após votação popular feita pelo site da instituição. Ao todo, ele recebeu 3.789 votos, alcançando o primeiro lugar e ganhando R$ 10 mil.

    “Quando tento me arriscar no mundo das artes, mostro que é possível a contribuição positiva do indígena para a construção de alternativas que todos almejam”, disse o artista, em entrevista à equipe do Prêmio Pipa.

    A segunda colocada do Pipa Online, com 3.686 votos computados, foi também uma aborígene. Trata-se de Arissana Pataxó, que aborda a temática indígena relacionada à vida contemporânea. As conquistas de Jaider e Arissana mostram como o público que consome arte busca maior representatividade indígena no cenário nacional. Que isso sirva de incentivo para os espaços culturais brasileiros.

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