Crítica: “Assassinato no Expresso do Oriente” é adaptação sem vida

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    Fox/Divulgação

    É um tanto surpreendente que Agatha Christie, uma das escritoras mais populares da literatura universal, não tenha sido adaptada mais vezes para o cinema de Hollywood. Na era das franquias, Kenneth Branagh, tão associado a versões de William Shakespeare (outro autor atemporal), dirige e encarna o clássico detetive Hercule Poirot na nova versão de “Assassinato no Expresso do Oriente”.

    Em um trem interrompido por uma avalanche, o bigodudo Poirot, personagem mais conhecido de Christie, investiga a morte de Edward Ratchett (Johnny Depp).

    As suspeitas atingem tipos diversos entre os passageiros: um médico (Leslie Odom Jr.), uma mulher que lembra estrelas de cinema (Michelle Pfeiffer), uma figura da realeza europeia decadente (Judi Dench), um suposto cientista austríaco (Willem Dafoe) e outros viajantes.

     

    Branagh, vindo de uma trinca de grandes orçamentos (“Thor”, “Operação Sombra: Jack Ryan” e “Cinderela”), tenta conciliar duas ambições: fisgar o público atual e atingir uma certa aura de prestígio afinada com os ares luxuosos da Hollywood clássica e moderna.

    Grande elenco, narrativa morna
    A versão de 1974, assinada por Sidney Lumet, ganhou um Oscar (de melhor atriz coadjuvante para Ingrid Bergman) e é até hoje a adaptação mais popular de Christie no cinema.

    No quesito comercial, o novo “Expresso do Oriente” mostrou que a autora britânica segue instigante: quase US$ 200 milhões arrecadados no mundo até 29 de novembro. O sucesso fresquinho praticamente consolida um universo Agatha Christie: já está em desenvolvimento um remake de “Morte no Nilo”, talvez com Branagh dirigindo e protagonizando.

    Mas essa fácil comunicação com o público não exatamente se traduz em um bom filme. Além das já esperadas cenas de procedimento investigativo, incluindo a revelação do autor do crime em discurso empolado, “Expresso do Oriente” tenta adicionar sequências de ação a uma trama que se passa no interior de um trem estacionado nos trilhos.

    Branagh até vai bem nas roupas de um Poirot mais ágil que exótico, mas a narrativa vacilante jamais consegue visualizar com vibração os mecanismos internos, interrogatórios e intuições detetivescas previstos no roteiro.

    Avaliação: Regular

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