Balões e intolerância. Willian Weslei e Larissa Cunha nos rodeiam o tempo todo

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    Willian Weslei e Larissa Cunha não são apenas Willian e Larissa, dois brasilienses que andam numa Mercedez-Benz de R$ 200 mil, pedem desconto em três balões de R$ 10 cada um, puxam os cordões e arrastam a vendedora Maria Izidoro de Moraes por 100 metros.

    Willian Weslei e Larissa Cunha nos rodeiam o tempo todo. Dirigem carros importados, pedem desconto de vendedora de balão e tratam todo e qualquer pobre como se lixo fossem. Ou, na melhor das hipóteses, seus serviçais. Pedem desconto a vendedores ambulantes, acham um abuso pagar direitos trabalhistas a domésticas e gastam os tubos com o guarda-roupa ou com o guarda-carro, o guarda-jóias, o guarda-vinho, o guarda-qualquer-coisa que lhes confirmem a pobre existência.

    Tenho dificuldade em acreditar que Willian Weslei e Larissa Cunha quisessem, por ato deliberado de vontade, arrastar dona Maria por 100 metros. Dona Maria, aos olhos deles, é um fantasma urbano, escrava de suas vontades, do trânsito ou de suas pretensas brincadeiras. Tudo é a mesma coisa.

    Dona Maria e todos os vendedores de rua, os camelôs, os flanelinhas, os balconistas, os entregadores de panfleto, os moradores de rua, todos esses e muitos outros sabem que há muitos Willian Weslei e Larissa Cunha entre seus pretensos clientes.

    Pelo que apuraram os repórteres Mirelle Pinheiro e Fernando Caixeta, do Metrópoles, Willian já estava com a carteira de habilitação suspensa quando da agressão à vendedora de balões.

    Constam nove infrações por excesso de velocidade e quatro por estacionar em lugar proibido. Há também BOs de injúria, ameaça, dano, Lei Maria da Penha, lesão corporal, furto de água, luz e sinal de telefone.

    Não é exatamente uma folha corrida limpa, mas não creio que seja Willian Weslei seja uma exceção ao aparente bom mocismo dos que avançam sobre a cidade em seus carrões importados e caminhonetes arrogantes. Eles estão em toda parte, com mais ou menos BOs ou até sem nenhum BO.

    Acredito mesmo que a comoção da cidade, um alento nestes tempos tão difíceis, tenha se dado porque a vendedora é uma senhorinha de 63 anos e que vende balões em festa junina. São marcas de um Brasil profundo, interiorano, infantil, colorido, de fogueiras, bandeirolas e senhorinhas.

    Como reagiríamos se, em vez de uma senhora de 63 anos, fosse um adolescente negro?

    Estamos doentes, os brasileiros. Faz muito tempo. Parece que só agora, 519 anos depois, começamos a acordar para quem de fato somos, para nosso desprezo para com os pobres, os anônimos, os que vivem distribuindo folhetos na rua, esperando a moeda nos estacionamentos, pendurando saquinhos de jujuba no retrovisor. Para com os moradores de rua que “sujam” a perfeição urbana das superquadras.

    Há em nós uma impaciência cruel, uma indiferença desumana para com aqueles que vivem da benevolência das ruas.

    Não se trata de nos colocar, a todos, na vala rasa dos Willian Weslei e Larissa Cunha. Que os dois sejam julgados e punidos pelo crime que cometeram. Mas aquilo que ultimamente aprendemos a chamar de sociopatia é uma doença epidêmica neste pobre país.

    Nos dividimos entre os humanos, ou seja, nossos pares , e os que sujam a paisagem com suas incômodas aproximações.

    Willian Weslei e Larissa Cunha são tão-somente a caricatura mais grotesca do que somos.

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