A cúpula da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estará reunida neste final de semana em Roma, na Itália, na sua 41º Conferência, quando escolherá a nova diretoria-geral, em eleição que ocorrerá no domingo (23/06/2019). Na ocasião, 194 países vão definir o sucessor do brasileiro José Graziano, que após dois mandatos consecutivos, não pode ser reeleito. O Palácio do Planalto já anunciou o voto em Qu Dongyu, vice-ministro da Agricultura e dos Assuntos Agrários da China. Graziano avalia que sua gestão mudou bastante a FAO, que, segundo ele, era mais voltada para o agrícola e o rural. “Era um pouco um gueto”, ele diz, acrescentando que modernizou a organização.
“Fizemos um trabalho mais intensivo em tecnologia, como, por exemplo, na irrigação gota a gota, que foi intensamente produzida pela FAO. Controlada por computador, [a prática] é um bom exemplo do uso da tecnologia na agricultura”, ele explica.
Para Graziano, que teve seu segundo mandato encurtado em seis meses, uma vez que a eleição para a nova diretoria, que seria em dezembro, foi antecipada para este mês de junho, a FAO que ele entregará ao sucessor é muito diferente da que recebeu.
“A FAO era uma organização internacional olhando para o agrícola e o rural em um mundo cada vez mais urbanizado e a caminho da globalização”, diz o diretor-geral. “Isso era era um pouco ficar com o resíduo que sobrava”.
Graziano, o primeiro latino-americano a comandar a FAO, conta que procurou direcionar a instituição para os grande temas internacionais, como a fome e também a má nutrição.
“Nos demos conta que o problema da má nutrição cresce muito mais rápido que o da fome. Hoje, já temos na América Latina, por exemplo, muito mais pessoas obesas do que mal nutridas”, ressalta.
Atenção às emergências
O brasileiro ainda destaca a atenção dada às emergências, com uma visão, de acordo com ele, um pouco diferente da assistência emergencial. “Nós incorporamos a ideia de que, para salvar vidas, temos que salvar o lugar ponde as pessoas vivem”, observa. “Um pastor, quando perde o rebanho, é um desempregado. Se não restituirmos o rebanho dele, ele não terá meios e condições de vida.
Graziano foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro governo Lula, sendo responsável pela implementação do Fome Zero. À frente da FAO, ele destaca três atividades, sendo que a primeira é o planejamento estratégico periódico.
“A cada dois anos nós revemos as nossas prioridades, os nossos compromissos. Isso permitiu à FAO se concentrar em cinco grandes prioridades: erradicação da fome e de todas as formas de má nutrição, promoção do desenvolvimento de uma agricultura sustentável; erradicação da pobreza rural; melhoria dos sistemas alimentares, para produzir dietas saudáveis; e a construção de uma resiliência, principalmente da população rural, que é a mais afetada pelas secas e pelos conflitos”, elenca.
“É a ideia que nós não podemos evitar uma seca, mas podemos evitar que a seca vire fome, vire migração forçada ou vire conflito“, completa.
A relação entre fome e conflito, afirma, foi levada ao Conselho de Segurança da ONU, que hoje adota os números que a FAO levanta, junto com o Programa Mundial de Alimentos (PMA) e a Unesco, como indicadores de intensificação de conflito.
Migração e conflitos
Já o segundo mandato esteve voltado, segundo diz o diretor-geral, a temas como migração – A FAO foi co-diretora do documento de trabalho sobre migração para a ONU – e conflitos – mais de 60% das pessoas que têm fome estão em áreas de conflito.
“Procuramos mostrar a importância de, mesmo em situações de conflito prolongado, como na Síria, por exemplo, manter a agricultura como uma atividade permanente. Não só para produzir alimento, e não precisar importá-lo, mas também para criar condições de trabalho para as pessoas que permanecem nessas regiões”, expõe Graziano.
Outra prioridade foi o incremento da agricultura familiar. O brasileiro avalia que atualmente há um espaço compartilhado entre empresas de economia agrícola de grande escala e outras de pequena escala, esta mais presente no âmbito local e mais importante na produção de alimentos frescos, “que são os mais nutritivos, os alimentos do futuro”.
“E promovemos com muita ênfase alternativas ao padrão da revolução verde, de produção intensiva à base de químicos e mecanização, para um padrão da ecologia de desenvolvimento sustentável”, afirma José Graziano.
A conferência
A 41º Conferência da FAO contará com a presença da ministra da Agricultura do Brasil, Tereza Cristina, que já declarou apoio ao candidato chinês Qo Dongyu para o cargo de diretor-geral.
Assim como a Argentina, que também apoia o chinês, o Brasil busca aumentar a cooperação entre os dois países, visando a abertura do mercado asiático para exportação de carne brasileira.
Estão na disputa para a direção da FAO, além de Qu Dongyu, Catherine Geslain-Lanéelle, ex-diretora do Departamento de Desempenho Econômico e Ambiental de Empreendimentos do Ministério da Agricultura da França; e David Kirvalidze, que foi ministro da Agricultura da Geórgia por dois mandatos.
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