Artigo: cinco espetáculos LGBTs do DF que Crivella deveria assistir

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Marcelo Crivella bem tentou, mas, a única coisa que o prefeito do Rio de Janeiro conseguiu ao se empenhar em proibir a venda de uma HQ da Marvel com um beijo gay foi gerar ainda mais visibilidade à obra e provocar uma corrida por novos exemplares. Certamente, ele não aprendeu a lição e deve ainda imaginar que censura e repressão são ótimas forma de proteger “os menores da nossa cidade”, como ele próprio argumentou. Sobraram críticas de psicólogos, educadores e artistas.

Caso dê as caras em Brasília – e dê a sorte de ter estes espetáculos em cartaz – ficam aqui algumas sugestões de trabalhos que podem melhor educar o prefeito sobre gênero e temáticas LGBTQ+. A arte nunca foi inimiga da educação, pelo contrário, sua grande aliada, sendo das melhores ferramentas de debate sobre o panorama social, humano e pedagógico de uma sociedade. E o teatro do DF tem muito dizer sobre isso.

Desbunde

Espetáculo-show que mobilizou a cidade em várias temporadas, Desbunde é um convite para abrir as asas, soltar as feras, cair na gandaia e entrar na festa. O trabalho reverencia os artistas que desafiaram o regime militar brasileiro com muita ironia, arte e paetês. Impossível resistir aos encantos do delicioso elenco, do texto convidativo e da direção malemolente, que tornam o espetáculo uma grande festa. Fica a torcida para que a obra volte a circular.

Diego Bressani/Divulgação

Você me sente?

Texto corajoso sobre o chamado holocausto rosa – perseguição nazista aos gays -, o trabalho traz quatro homens que relatam a tortura e humilhação às quais os homossexuais foram submetidos durante o período da Segunda Guerra Mundial. Uma lição dolorosa sobre a força e covardia da intolerância humana, mas, também, um atestado de que não há prisão capaz de impedir o amor entre duas pessoas, sejam elas quais forem.

Virilhas

Peça encenada por variados elencos ao longo dos anos (foto em destaque), acabou por se tornar um clássico recente da dramaturgia brasiliense, sendo das melhores provocações sobre os conflitos e prazeres da relação homoafetiva e do contexto social e cultural que a abrangem. Exalando o cheiro de suor dos corpos nus, a obra de Alexandre Ribondi fala de amor e tesão numa intensidade que talvez você já tenha experimentado, e talvez prefira não lembrar (ou morra de saudades).

A Resistível Ascensão de Arturo Ui

Deixo o próprio grupo apresentar o rolê: “Para o Grupo Liquidificador, a obra traça um paralelo preciso que se relaciona com o cenário político mundial dos dias atuais e as constantes ondas de violência que tomam conta do Brasil (né, Crivella?!). Com o intuito de repensar e transgredir lugares de poder, o coletivo se debruça sobre a performatividade dos drag kings a partir de quatro atrizes revezando os 27 personagens masculinos do texto”. Obs: O “né, Crivella?” foi por minha conta, mas, desconfio, o grupo não se oporia.

Natasha Albuquerque / Divulgação

Enquanto Todos Dormem

De um lado, uma alma solta e livre. Do outro, uma mente aprisionada e uma sexualidade reprimida. Os dois, militares, protagonizam a narrativa escrita e dirigida por Thiago Cazado sobre um amor desejado mas prejudicado pelo preconceito social. A exemplo dos dias atuais, quando ainda temos tantos impedidos de abraçar a orientação sexual, os dois soldados vivem o dilema de se amar em espaços públicos, sem precisar olhar para o lado.

Todos os espetáculos acima, assim como a ilustração da HQ da Marvel, falam sobre amar livremente, sem pedir licença e, muito menos, pedir desculpas. Vá por mim, o teatro ensina. O Crivella é que nunca frequentou.

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