É em Tietê, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), onde vive um morador que dá um show de perseverança e inteligência. O dentista Paulo Eduardo Iusis Santarém tem 61 anos e, há cerca de 11, convive com a esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa do sistema nervoso que acarreta paralisia motora progressiva e irreversível. Porém, nem esse diagnóstico fez com que Paulo deixasse o carisma de lado, que tem sido um forte aliado para manter uma rotina com bom humor e alegria.
Santarém cursou a faculdade de Odontologia em Presidente Prudente. Formado, passou em um concurso público e foi trabalhar na cidade de São Manuel. O dentista sentiu os primeiros sinais da doença ao perder a firmeza enquanto segurava os aparelhos de trabalho. Começou a tropeçar com frequência, sofrer quedas e, após exames com médicos da Unesp de Botucatu, foi diagnosticado com a ELA. Aposentado, voltou a morar em Tietê para ficar mais perto da família.
Por conta da doença, sua mobilidade ficou comprometida e ele permanece acamado, sob os cuidados da esposa, Maysa, e das duas filhas, Daniela e Isabela Santarém. Desde então, os familiares e amigos se revezam nas visitas ao idoso. Sempre que recebe alguém em casa, Paulo gosta de presentear a pessoa com um chocolate, demostrando seu carinho com cada um que dedica um pouco do tempo ao lado dele.
Chocolates
Costumeiramente, os chocolates escolhidos por Paulo eram caixinhas de Bis – biscoito tipo wafer coberto por chocolate. Daniela conta que presentear com chocolate é um costume de família e que, depois da ELA, essa atitude se ampliou com as visitas, que recebiam a lembracinha doce.
“Ele tem pedido para a minha mãe comprar mais chocolate. Até controlava um estoque de Bis dentro do quarto”, explicou a filha. Ela decidiu compartilhar nas redes sociais a generosidade do anfitrião, que rapidamente gerou centenas de curtidas.
“De tudo que ele me ensina, o principal que aprendi é que nossa vida nem sempre pode ser doce. Mas quem dá o sabor a ela somos nós mesmos. Diariamente”, dizia a publicação.
O post chegou até a fabricante do chocolate. Na terça-feira (17), a empresa presentou o dentista com um ano de doações do chocolate, que receberá mensalmente 40 caixinhas da guloseima. Tudo isso para que ele continue presenteando as visitas como gosta.
Além do chocolate, ele também ganhou um computador com mouse ocular – que funciona de acordo com o movimento dos olhos. “Ele ainda está fuçando no computador, que vai ajudar ele a se comunicar melhor”, declarou Dani. Antes mesmo deste recurso, Paulo utilizava o código morse – sequencia de pontos e traços vista em filmes (principalmente os de guerra), que geralmente pode ser interpretada por meio de som ou luz.
Olhos que falam
Uma das façanhas descobertas por Paulo para se comunicar depois da ELA foi usar o código morse. Em janeiro de 2018, a reportagem do Cruzeiro do Sul contou a história do dentista, que também é radioamador.
Na época, Daniela mostrou o recurso usado pelo pai para falar com a família com os olhos. Cada piscada, representando um traço ou ponto, corresponde a uma letra do alfabeto ou número, de 0 a 9. O sistema de código morse foi gravado em vídeo pela filha do dentista e legendado de acordo com o significado de cada uma das piscadas, que podem ser curtas ou longas.
E essa comunicação ultrapassa a família, já que com auxílio da internet as gravações de Santarém são enviadas para outros radiamadores do País. Ele é um dos 40 mil radioamadores licenciados no Brasil pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Porém, a filha já adianta que Santarém não vai abrir mão do código morse para se comunicar.
“Essa doença é muito complicada porque ela tira a autonomia, então a pessoa acaba ficando à mercê da vida dos outros. Aí pode acabar ficando depressiva. Apesar de tudo ele nunca foi uma pessoa negativa. Sempre deu força para a gente. Esse presente vai melhorar a forma que ele vê a vida e se comunica”, acrescentou Daniela. (Aline Albuquerque e Giuliano Bonamim)
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