Quero fazer você pensar! Mas, pensar sobre o quê? Sobre muitas coisas…Talvez, sobre a nossa própria condição humana ou, então, filosofar sobre o futuro da humanidade… Se isso for muita pretensão da minha parte, quem sabe, então, refletir a respeito de algum acontecimento corriqueiro que o jornal noticiou, porém não foi notado pela maioria. Quer é um exemplo? Uma discretíssima nota de desaparecimento de alguém, como uma foto 3×4, que é publicada como a naturalidade de uma receita de pudim, mas que deveria receber a mesma atenção das grandes tragédias coletivas.
Exageros à parte, é evidente que o sofrimento de quem busca um parente que sumiu, como uma agulha num palheiro, está mais próximo da realidade sorocabana, embora o olhar do leitor seja desviado para fatos que estão fora de seu alcance. Só isso já merecia uma crônica. Se bem que o jornal, amigo leitor, é uma fonte inesgotável de assuntos que são dignos de observação. Digo, observação, porque a palavra “análise” traz em si o pendor de uma abordagem técnica aprofundada, algo que não tenho em mente neste momento.
Afinal, o cronista não analisa, apenas observa. Aliás, são seus olhos que observam o entorno. Posso estar enganado, mas quem observa não aprofunda, apenas levanta hipóteses. Já a análise pressupõe esclarecimento dos fatos. Assim, o cronista não tem explicação para os acontecimentos, sejam eles grandiosos ou corriqueiros. Nem tão pouco é capaz de apresentar, mesmo literariamente, respostas prontas para problemas crônicos que o noticiário local expõe, com frequência, e que quase nunca as autoridades encontram soluções plausíveis. Mas, isso também é motivo de crônica?
Sim! Na verdade, o burburinho da cidade, com suas mazelas e encantos, sempre rendem textos descompromissados com a informação, mas voltados à reflexão. Embora a ideia pareça instigante, uma dúvida atravessa meu caminho: como os leitores receberão este espaço que acaba de ser inaugurado? Mais um barco à deriva? E, para ser franco, nem sei se essa “viagem” durará muito, pois dependerá como você vai reagir. Aliás, será que a crônica, antes a “alma” do jornal, ainda desperta interesse? O tempo de vida útil desta coluna dirá.
(*) João Alvarenga professor de Redação e escritor.
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