Professor “censurado” pela CGU já foi alvo de ataques de Bolsonaro

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O ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Rodrigues Curi Hallal já foi alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em episódio que ocorreu no último dia 14 de janeiro. Na ocasião, o chefe do Executivo federal expôs, em rede social, o vídeo do trecho de uma entrevista em que o docente é interrompido por apresentadores da rádio Guaíba, que corroboram com a posição do deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS).

No vídeo, um dos entrevistadores pergunta como Pedro Hallal, responsável por uma das pesquisas mais relevantes sobre o novo coronavírus no país, a Epicovid, foi diagnosticado com a doença, uma vez que é a favor do “fique em casa”.

O docente se nega a prestar detalhes e diz se tratar de informações de caráter pessoal. E novamente é interrompido: “Se ele não conseguiu salvar ele, vai conseguir salvar quem?”, provoca Bibo Nunes.

Pedro Hallal e um colega dele, o professor adjunto Eraldo dos Santos Pinheiro, assinaram um termo de ajustamento de conduta (TAC) em troca do arquivamento de um processo instaurado após os dois criticarem a gestão de Bolsonaro durante live, no último dia 7 de janeiro. Agora, os docentes terão que ficar dois anos sem desrespeitar o artigo que proíbe “manifestações de apreço ou desapreço” no local de trabalho.

“Manifestação desrespeitosa”

Os extratos do termo de ajustamento de conduta foram publicados nessa terça-feira (2/3), no Diário Oficial da União (DOU). As falas dos professores da universidade gaúcha foram descritas pela Controladoria-Geral da União (CGU), que foi acionada pelo deputado Bibo Nunes, como uma “manifestação desrespeitosa e de desapreço direcionada ao presidente da República”. O parlamentar pedia, no entanto, a exoneração dos servidores.

Na prática, o TAC consiste em um procedimento administrativo voltado à resolução consensual de conflitos e é considerado como a infração disciplinar de menor potencial ofensivo. Os docentes se comprometeram a ficar dois anos sem infringir o artigo 117 da Lei 8.112/1990. Em troca, a representação foi arquivada pela Controladoria.

Na ocasião da live, Pedro Hallal disse existir um projeto vergonhoso em curso no país. Ele também chamou Bolsonaro de “desprezível” ao destacar uma tentativa de interferência do presidente da República na escolha dos próximos reitores da universidade gaúcha.

“O presidente jamais terá sossego aqui na UFPel. Será marcado como um ato de resistência histórica. Aqui, não. O senhor não manda, absolutamente, em nada na UFPel. Saiba isso, hoje, como já lhe disse inúmeras vezes: o senhor não manda nada na Universidade Federal de Pelotas. Quem manda na UFPel é a nossa comunidade. O senhor é desprezível”, assinalou.

“Defensor de torturador”

Disse também, em uma das últimas falas como reitor da UFPel, que “nada disso estaria acontecendo se a população brasileira não tivesse votado em um defensor de torturador, em alguém que diz que mulher não merecia ser estuprada ou no único chefe de Estado do mundo que defende a não vacinação da população”.

Em artigo publicado na revista científica The Lancet, uma das mais conceituadas do mundo, o epidemiologista mostrou que três a cada quatro mortes em decorrência da Covid-19 no país poderiam ser evitadas se o governo federal tivesse conduzido a crise sanitária de acordo com a “média dos melhores países do mundo”.

Já Eraldo Pinheiro criticou “o golpe impetrado por esse grupo que está devastando o nosso país”. E detalhou, sem citar nomes: “Grupo liderado por um sujeito machista, racista, homofóbico, genocida, que exalta torturadores e milicianos, que ao longo do tempo vem minando, destruindo as estruturas já precárias em nossas instituições”.

Assista à íntegra:

Ao Metrópoles, o professor Pedro Hallal explicou que a Controladoria vislumbrou apenas uma potencial violação leve na manifestação e, por isso, propôs o TAC. “Não há reconhecimento de culpa, mas me comprometo em dois anos em não violar o artigo específico. Analisei junto aos meus advogados e achamos por bem assinar”, afirmou.

Pedra sobre o assunto

“Exatamente para que o processo encerrasse, entendemos por bem assinar o termo e colocar uma pedra no assunto. Mas, claro, o simples fato dessa denúncia e desse processo existir caracteriza o processo de exceção que o país está vivendo”, prosseguiu, ao evitar responder se o caso pode ser caracterizado como uma perseguições.

“É uma situação que caracteriza-se um momento de extrema exceção. Mas obviamente eu continuarei emitindo minha opinião científica sobre a trágica condução da pandemia pelo governo federal”, destacou.

O epidemiologista confessou, ao Metrópoles, que poderia ter evitado o termo desprezível durante a live, no dia 7 de janeiro. “A condução da pandemia, a condução das pautas da educação, são lamentáveis, vergonhosas, vexatórias, mas para dizer isso não preciso citar uma pessoa, é a instituição governo. Então, essa frase, que uso o termo desprezível, poderia ter sido diferente”, revelou.

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