Luis Miranda: Pazuello foi ameaçado por “caras que querem mandar na Saúde”

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O deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) disse, nesta segunda-feira (12/7), que o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, teria lhe revelado que sofreu inúmeras pressões na pasta de “caras que querem mandar no ministério” e que, inclusive, teria sido ameaçado com “dedo na cara”. Mas se negou a revelar nomes, afirmando que essa tarefa cabe ao ex-ministro.

“Pazuello me conta que, no meio do ano passado, tinha comprado um IFA para o Brasil fabricar sua própria vacina. E ele começa a ser travado. E me contou as dificuldades de ter a vacina. Eu disse: ‘Você tem que denunciar isso. É grave’. Ele me disse: ‘Amigo, eu fui ameaçado. O cara botou o dedo na minha cara e falou que ia me tirar dessa cadeira’. Se o general tem medo dele e eu não sei se o general tá falando 100% da verdade, vai ser eu que vou falar?”, relatou.

Miranda ressaltou que não dará o nome da pessoa que teria ameaçado o ministro, embora tenha dados indícios de que trata-se de um deputado do Centrão e de que já teria dito quem é aos integrantes da CPI da Covid-19. Mas assegurou que, se Pazuello revelar, ele confirmará.

“Chegou a hora da gente escancarar o que está acontecendo no Ministério da Saúde. Vão estourar coisas muito graves, reveladas por nós”, destacou o deputado, convidado do programa Roda Viva, na TV Cultura, na noite desta segunda.

Mas sobre o suposto esquema dentro do ministério, Miranda se esquivou de dar mais detalhes. Segundo ele, a iniciativa de denunciar o grupo deve partir de Pazuello na sua volta à CPI da Covid-19, no Senado. Porém, o deputado garante: se o ministro mentir para a CPI, ele apontará quem está à frente do esquema de corrupção na Saúde.

“Pazuello sabe o que ele falou. Ele tem que falar exatamente o que ele falou para mim se ele quiser. Agora, não pode me chamar de mentiroso. Se me chamar de mentiroso, eu desminto ele”, garantiu Miranda.

“A verdade sempre esteve do meu lado. Em nenhum momento a gente mentiu. Eu jamais gravaria um presidente, mas não estava sozinho na sala. E muita gente não confia no presidente”, ressaltou, embora tenha dito que, além dele e do irmão, apenas o ajudante de ordens da Presidência, Diniz Coelho, presenciou a conversa antes de sair da sala.

A + B

Segundo o parlamentar, basta que as acusações que fez sejam investigadas e o suposto esquema de fraudes dentro do Ministério da Saúde será confirmado. “Se bem investigado, vai provar tudo o que falamos”, disse. Vamos provar por a mais b que existe sim esse esquema no Ministério”.

Miranda voltou a ressaltar que ele e o irmão, Luís Ricardo Miranda, servidor da Saúde, sofreram ataques e ameaças por terem feito denúncias de irregularidades na aquisição de vacinas da Covaxin.

“Levamos para o presidente informações técnicas. Não acusamos ninguém. O único nome que ele fala de forma clara é o do Ricardo Barros. O presidente não desmentiu [as denúncias]. O que ele tenta é minimizar. E ele teve um entendimento que não teve nenhum problema”, falou, se dizendo bastante decepcionado com Bolsonaro.

“E muito frustrante para quem esteve do lado dele o tempo todo, sempre o apoiou, quem tanto acreditou nele que levou a denúncia a ele”, lamentou. “A sorte dele é que eu não tenho o mesmo caráter que o dele senão eu já teria exposto este áudio há muito tempo”, disse, embora tenha afirmado, anteriormente, que não tem o áudio.

Entenda

De acordo com documentos do Tribunal de Contas da União (TCU), a Covaxin foi a vacina mais cara negociada pelo governo federal, custando R$ 80,70 a unidade. O valor é quatro vezes maior que o da vacina da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a AstraZeneca, por exemplo.

A CPI da Covid investiga por que o governo agilizou os trâmites na compra da vacina indiana. Segundo um levantamento do TCU, o Ministério da Saúde levou 97 dias para fechar o contrato da Covaxin, enquanto demorou 330 dias para ter um acordo com a Pfizer. Senadores veem prevaricação por parte do presidente Bolsonaro.

Além disso, o contrato entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos para compra da vacina Covaxin foi o único acordo do governo que teve um intermediário sem vínculo com a indústria de vacinas – o que foge do padrão das negociações e contratos de outros imunizantes.

Durante depoimento ao Ministério Público, no inquérito que apura a conduta do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o servidor Luis Ricardo Miranda afirmou que recebeu pressões para favorecer a Precisa Medicamentos em depoimento ao Ministério Público.

O deputado Luis Miranda disse que ele seu irmão, Luis Ricardo Miranda, alertaram Bolsonaro sobre as suspeitas. Na CPI, o deputado afirmou que o líder do Governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), foi mencionado pelo presidente Bolsonaro como possível envolvido em esquema, ao ouvir a denúncia sobre os supostos problemas no contrato da vacina. Barros nega envolvimento.

 

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