População idosa crescerá 63% até 2030. Como o DF se prepara para isso?

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Uma pesquisa da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) mostrou que o DF terá crescimento no de 63,3% no número de idosos na próxima década. Mas, afinal, a capital do país tem se preparado para esta mudança populacional?

De acordo com a pesquisa Projeções Populacionais para as Regiões Administrativas do Distrito Federal 2020-2030, haverá aumento da população idosa (com 60 anos ou mais) e queda no número de jovens (0 a 14 anos), resultando num índice de envelhecimento de 95% em 10 anos. Isso significa que, a cada 100 jovens, existirão 95 idosos.

A estimativa é de que a população idosa suba de 346.221, em 2020, para 565.382, em 2030, passando de 9,3% do número de habitantes para 16,6%. Um crescimento acelerado com taxas em torno de 5% ao ano entre 2010 e 2030.

Enquanto isso, os jovens cairão de 601.865 para 595.207 em uma década, deixando de ser 19,7% do percentual total para 17,5% da população. Em 10 anos, a estimativa é de que o DF tenha 3,4 milhões de habitantes.

Diferentes áreas, como saúde, segurança e cultura, dispõem atualmente de programas especiais à pessoa idosa. No entanto, brasilienses com mais de 60 anos questionam se estes atendimentos serão eficazes nos próximos anos, com uma maior quantidade de habitantes na terceira idade.

Rede pública de saúde

Na área da saúde, por exemplo, um questionamento de usuários da rede pública é se haverá estrutura para atender uma maior demanda. “Já hoje a superlotação dos hospitais faz a gente procurar o particular”, comenta a vendedora ambulante Maria Izaura Dias (foto em destaque), 63 anos.

Ela trabalha diariamente vendendo sorvetes em frente ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e conta que há cerca de três anos descobriu uma labirintite. “Estou me sentindo mais fraca e tenho que fazer alguns exames. Às vezes, prefiro pagar consulta para não ir na rede pública, porque demora”, diz.

“Acho que estão formando agora mais médicos, então terão mais profissionais no futuro. Mas, o governo tem que dar espaço para eles trabalharem com mais condições, em melhores hospitais”, espera Maria.

Procurada, a Secretaria de Saúde disse que não tem números da quantidade de idosos atendidos atualmente na rede pública. Em nota, informou “que o atendimento à pessoa idosa, a exemplo de todos os atendimentos na rede pública de saúde, é iniciado na Atenção Primária, por meio das Unidade Básicas de Saúde (UBS)”. “Após atendimento e avaliação da equipe multiprofissional, o paciente pode ser encaminhado ao ambulatórios de geriatria da rede, que estão ligados ás policlínicas regionais.”

“A unidade de referencia nesta especialidade é a Policlínica de Taguatinga, outros nove núcleos atendem esses encaminhamentos nas regiões de Planaltina , Sobradinho, Gama, Guara, Núcleo Bandeirante, Samambaia, Paranoá, Asa Norte e Ceilândia”, diz a pasta.

Atualmente, a Secretaria de Saúde possui 20 médicos geriatras ativos em seu quadro. A pasta diz que um novo concurso está em trâmite para a contratação de mais profissionais, incluindo esta especialidade. “Nos atendimentos encaminhados à Atenção Secundária (Policlínicas), a Secretaria de Saúde registrou 11.855 consultas com médicos geriatras no ano de 2020 e 10.186 consultas com médicos geriatras no ano de 2021. Até março deste ano, foram registradas 2.595 consultas nesta especialidade médica”, informou.

Lazer e bem-estar

Já no âmbito do lazer, Brasília é vista por alguns como uma boa cidade para envelhecer. Para o casal de aposentados Leila Resende, 65, e Clóvis Sabino, 67, a capital oferece bons espaços para a prática de exercícios.

“Nós vamos em clube da Asa Sul que é ótimo, tem muita opção. Tem o Parque da Cidade, que é liberado [para o público] e é bom para caminhar”, exemplifica Leila. “Brasília neste ponto é muito bom. A gente viaja bastante e há cidades que não têm muita acessibilidade, têm ladeiras. Mas aqui eu acho muito bom para idoso nesse sentido”, completa ela.

A moradora da Asa Sul Tânia Aguilar, 60, reforça o ponto de vista do casal. “Acho que envelhecer aqui é bacana, porque é uma cidade mais tranquila, onde temos uma certa segurança. Em termos de acessibilidade, está melhorando. A infraestrutura ainda tem pendências, não vejo grande perspectivas de mudar isso até lá [2030]. Mas eu gosto da tranquilidade e da calma da cidade”, diz a aposentada.

Segundo a Secretaria de Cultura, a pasta tem desenvolvido atualmente projetos para o público brasiliense com mais de 60 anos. Em nota, o órgão informou que “dentro do FAC Multicultural, lançado agora no último mês de abril, há uma categoria chamada ‘Cultura de todo tipo’”. “Dentro dela há uma linha para projetos voltados para um público 60+; há vagas reservadas para agentes culturais e proponentes com 60+. Além disso, a categoria ‘Meu primeiro FAC’ também possui vagas para agentes culturais nessa faixa etária.”


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De acordo com Alberto Lessa, subsecretário de Políticas para o Idoso do DF, vinculada à Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), é possível que a quantidade de idosos para a próxima década no DF seja ainda maior que a prevista pela Codeplan. “Porque em face da pandemia o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) não foi atualizado ainda. Embora muitos idosos tenham falecido por conta da Covid, como o IBGE não atualiza os números há dois anos, é possível que esse número seja maior”, pontua. “Assim é também com a população jovem, pois muitos nascimentos não foram mapeados ainda”, completa.

O subsecretário diz que o governo do DF vem desenvolvendo projetos para cuidar da população idosa a longo prazo. “Está sendo implantado na Estrutural o Centro Dia, que é um projeto piloto a ser implementado em todas as RAs, onde idosos terão espaço de acolhimento com profissionais gabaritados. Será um centro de convivência onde eles terão atendimento especializado, com psicólogos, assistentes sociais, espaço de lazer”, exemplifica.

Outra proposta é a criação de uma instituição de longa permanência 100% pública. Porém, ainda não há data para sair do papel. “É um projeto arquitetônico doado pela Universidade Católica, que já foi aprovado. Pode ser que demore um pouco, mas a gente tem corrido contra o tempo para instalar. Temos diversos projetos em andamento e o governo tem se preocupado com esse atendimento”, afirma Alberto Lessa.

Segurança

Já em relação à segurança, o Distrito Federal conta com uma delegacia especializada no atendimento à terceira idade. De acordo com Ângela Maria dos Santos, delegada-chefe da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), policiais devem seguir um protocolo específico para atender este público.

“Nós temos um procedimento operacional padrão, que é quase um livro falando como se deve atender um idoso. Foi um documento lançado no ano passado, que é um protocolo para os servidores e todos os policiais do DF devem seguir para oferecer esse atendimento diferenciado”, explica.

“Geralmente a maioria dos crimes contra o idoso ocorrem dentro do lar, então não depende muito da segurança ostensiva. É um crime mais silencioso, em que muitas vezes os agressores são os próprios filhos, cuidadores”, assinala. “Não vejo ter aumentado muito [violência contra idosos], mas a medida que a população vai envelhecendo é natural que tenham mais casos”, comenta a delegada.

Regiões administrativas

Ainda conforme a pesquisa da Codeplan, o envelhecimento ocorre em todas as regiões administrativas do DF. O crescimento da proporção de idosos é visto em todas as RAs, desde aquelas com o topo das pessoas mais velhas, como Lago Sul, Park Way e Cruzeiro, até aquelas no fim da lista, como Sol Nascente/Pôr do Sol, SCIA/Estrutural e SIA.

Lançado em 5 de maio, o estudo seguiu a metodologia da pesquisa semelhante de 2018, com o acréscimo de uma consulta pública a especialistas em desenvolvimento urbano, habitacional e território do DF, e às administrações das regiões administrativas.

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