São Paulo — As irmãs do ambulante Matheus Campos da Silva, de 21 anos, que morreu atropelado pelo motorista de aplicativo Christopher Gonçalves Rodrigues, 26, na região central de São Paulo, na semana passada, afirmam que a família tem sofrido com comentários e reações das pessoas nas redes sociais.
Em uma série de vídeos, logo após o atropelamento, Christopher debocha e ofende Matheus, a quem atribui um furto de celular. Ele filmou a vítima ainda viva debaixo do seu carro, negou ajuda e depois comemorou a morte do ambulante dizendo: “Menos um fazendo L”, em alusão aos eleitores do presidente Lula.
A Polícia Civil investiga se houve homicídio culposo (sem intenção) ou doloso (intencional). O motorista de aplicativo pode responder ainda por incitação ao crime, entre outros.
“Elas (pessoas) não veem que por trás disso tem uma família, uma mãe que está chorando. A gente que está sofrendo. A gente não conseguiu nem viver o luto do meu irmão. É muita coisa acontecendo, muita mentira que vêm falando dele. A gente só quer a verdade”, afirmou Paloma Campos, nessa quarta-feira (3/5), quando foi ao 5º DP (Aclimação), onde o caso é investigado.
Paloma disse que as pessoas são “maldosas”, não sabem o que realmente aconteceu e que só estão vendo a versão de Christopher, o motorista de aplicativo que debochou do atropelamento de Matheus e o acusou de ser “ladrão”. Segundo o delegado Percival Alcântara, o deboche pode levar até a um indiciamento por incitação ao crime.
O padrinho de Paloma também é motorista de aplicativo. Foi ele quem primeiro recebeu os vídeos de Christopher, em um grupo da categoria, debochando do atropelamento de Matheus. Isso aconteceu durante o enterro do rapaz, na última quinta-feira (27).
A onda de violência que acompanha casos como esse em redes sociais incomoda Paloma. “Justiça com as próprias mãos não resolveu nada. Infelizmente, meu irmão está morto e não tem como se defender.”
0
Paloma ressaltou que o irmão nunca foi preso e não tinha antecedentes criminais. “Era um adolescente como qualquer um, tinha 21 anos. Trabalhava, vendia bala, capinha de celular na rua. Era assim que ele ganhava a vida. Nunca foi preso e nunca roubou nada de ninguém. Quero só que a verdade seja esclarecida”, disse Paloma.
Depois de atingir a maioridade, o irmão de Paloma não teve registros criminais. Segundo a polícia, quando tinha 15 anos, portanto quando era menor, Matheus esteve envolvido em uma ocorrência que corresponde a tráfico de drogas, em Taboão da Serra (Grande São Paulo).
As duas irmãs foram ao 5º DP (Aclimação) acompanhadas dos advogados Wallison dos Reis Pereira da Silva e o criminalista Gil Ortuzal, que representarão a família durante o inquérito. A família deseja que Christopher seja preso. “Estamos pedindo a prisão dele [de Christopher]. Tem que ter e vai ter, não pode ser negado isso”, disse Talita Campos, outra irmã da vítima.
“Ele fez de forma proposital e negou socorro. Meu irmão estava vivo debaixo do carro. Ele não deixou ninguém em volta socorrer meu irmão”, afirmou Talita.
Nesta quarta (3/5), os PMs envolvidos na ocorrência foram ouvidos na delegacia. A vítima do suposto furto de ceular praticado por Matheus será ouvida nesta quinta-feira (4/5).
Em depoimento na sexta-feira (28), Christopher disse que não teve intenção de atropelar Matheus e que se arrepende de ter gravado os vídeos. Segundo a polícia, até o momento, o motorista de aplicativo não apresentou advogado.
The post “Não conseguimos viver o luto”, diz irmã de atropelado alvo de deboche first appeared on Metrópoles.