Ana Maria Braga se retratou na manhã de hoje (23/9) por um termo de cunho racista proferido na edição de ontem do “Mais Você”. Quando o repórter Fabrício Battaglini entrou, ao vivo, de uma plantação de girassóis, a apresentadora descreveu como “inveja boa, inveja branca” o sentimento ao vê-lo numa paisagem bucólica. Apesar de muito utilizada no cotidiano brasileiro, a expressão sugere uma amenização de um sentimento ruim ao associá-lo à cor branca.
Comumente associada a algo negativo – ao luto ou ao medo, por exemplo –, a cor negra, na expressão usada por Ana Maria Braga, denotaria sutilmente que a inveja tem coloração escura. Num país marcado por mais de 350 anos de escravidão – dos quais 67 enquanto nação soberana –, período no qual seres humanos cativos compuseram a base da economia nacional, a expressão é mais um resquício do racismo enraizado na sociedade brasileira.
Neste sentido, a conotação negativa associada à cor preta se difunde por outros pontos no vocabulário tupiniquim. É o caso, por exemplo, de “lista negra”, na mesma linha de “mercado negro” e “a coisa está preta” para se referir ao lado negativo dos substantivos citados. Apesar de muito comum, as expressões marcam a herança escravocrata e racista do Brasil, feridas jamais cicatrizadas ao longo de nossa experiência enquanto país.
Xenofobia também é presente no imaginário nacional
No Rio de Janeiro, de onde foi transmitido o “Mais Você”, é comum que a população se refira a migrantes nordestinos como “paraíbas”, enquanto em São Paulo o “baiano” é utilizado de forma generalista para designar alguém nascido na região Nordeste. A primeira, inclusive, foi utilizada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para fazer menção ao governador maranhense Flávio Dino (PSB-MA). As expressões são agressivas pois descaracterizam e consideram como uniforme uma região composta por nove estados e cerca de 57 milhões de habitantes, de acordo com o IBGE. Ou seja: quase um quarto da população brasileira.
Do mesmo modo, a atribuição de características específicas a determinadas populações também demonstra um processo xenófobo não superado pelo Brasil. Atribuir homossexualidade a gaúchos, preguiça a baianos e pouca inteligência a portugueses, por exemplo, são modos de diminuir sociedades que, em um momento ou outro, estiveram contra os interesses do Estado brasileiro. É justamente o caso dos sul-rio-grandenses (na Revolução Farroupilha, iniciativa separatista); dos baianos (nas diversas lutas por independência da unidade federada); e dos portugueses, que colonizaram as terras de Tupã.
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