Entenda por que imagem de feto negro gerou polêmica sobre ilustrações

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Nas últimas semanas, a ilustração de um feto negro dentro do útero viralizou nas redes sociais. A imagem, criada pelo artista nigeriano e estudante de medicina Chidiebere Ibe, denunciou a falta de representatividade na literatura médica — quase a totalidade dos desenhos retrata pessoas brancas.

“O objetivo foi continuar a discussão sobre o tema pelo qual sou apaixonado, a equidade no acesso à saúde, e também mostrar a beleza do povo negro. Não só precisamos de mais representações como esta, precisamos de mais pessoas dispostas a criar este tipo de ilustração”, explicou o artista, em entrevista ao HuffPost UK.

De acordo com a Associação de Ilustradores Médicos, só existem 2 mil profissionais registrados no mundo inteiro, e a maioria deles é homem e branco. Os cursos específicos são caros, e só admitem poucos estudantes — a pouca variedade entre os ilustradores tem reflexo no trabalho deles.

Um estudo de 2014 da Universidade de Wollogong, na Austrália, mostra que entre mais de 6 mil imagens médicas encontradas em 17 livros de anatomia importantes, publicados entre 2008 e 2013, só 36% das ilustrações retratam mulheres, e a maioria absoluta dos desenhos é de pessoas brancas. Apenas 3% é de corpos com deficiência, e só 2%, de idosos.

Falha no aprendizado

A diversidade é essencial porque afeta o treinamento de médicos e profissionais de saúde. “Sem representação igualitária e o uso perpétuo de corpos de pessoas brancas em livros de medicina, profissionais ficam limitados em sua habilidade de diagnosticar com eficácia e em tratar pessoas que não se encaixam no padrão. Profissionais médicos tendem a depender de estereótipos e generalizações raciais por causa dessa falha no aprendizado em como sintomas se apresentam de forma diferente em pessoas com tons de pele diversos, o que leva a um cuidado pior”, afirma Ni-Ka Ford, diretora do comitê de diversidade da Associação de Ilustradores Médicos, em entrevista à CNN Internacional.

Um estudo publicado em 2018 também pela Universidade Wollong descobriu que essas imagens em livros de anatomia estão diretamente relacionadas ao preconceito implícito em testes feitos com estudantes de medicina. Outro levantamento, publicado na revista científica Plastic and Reconstructive Surgery – Global Open, de 2019, descobriu que pacientes brancos estão super representados em artigos de cirurgia plástica.

“Por décadas, publicações acadêmicas usaram fotografias e imagens que retratam de forma inadequada a diversidade demográfica de pacientes afetados por doenças particulares. Essa falta de diversidade na ilustração é muito clara. A falta de igualdade pode trazer efeitos na acesso à saúde e no tratamento”, escreveram os pesquisadores.

Ford afirma que a ausência de representatividade pode desencadear falta de empatia por parte dos médicos por grupos que não estão representados, e diminuir a qualidade do cuidado recebido. Algumas pesquisas mostram que profissionais de saúde brancos têm noções erradas sobre as diferenças biológicas entre pessoas negras e brancas, o que pode levar a um pré-conceito de como a dor é percebida em cada grupo.

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