O debate mostrou que estamos num buraco

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Lula foi mal. Bolsonaro foi mal. No debate da noite deste domingo entre os candidatos à cadeira de presidente da República, o primeiro da atual campanha, os líderes da corrida eleitoral se preocuparam mais em explorar a ignorância do eleitor médio e em animar suas claques do que em apresentar seus planos.

Foi um festival de horrores que mostrou o quanto o país vai mal, cada vez mais refém da guerra de narrativas que envolve duas figuras que se colocam acima do Brasil e dos brasileiros. É um péssimo sinal.

Os demais candidatos – uns mais, outros menos – até se esforçam para avançar alguns palmos, mas parecem fadados a ser coadjuvantes de um duelo no qual os protagonistas douram, com sucesso, o passado e o presente.

Lula doura a realidade negando a todo custo a corrupção monumental que se descobriu na era petista. No figurino de injustiçado, que se diz inocentado sem ter sido, ele recorre a argumentos frágeis para iludir o eleitor desinformado. Quais são mesmo a primeira e a segunda instâncias da ONU que o inocentaram? Fake news, a exemplo daquelas que vêm do lado oposto? E o fato de as instituições terem funcionado para descobrir malfeitos em seu governo e nos de sua sucessora apaga a roubalheira descoberta e demonstrada?

Bolsonaro doura a realidade buscando apagar os horrores do agora. O negacionismo, a retórica antivacina, a condução mambembe da resposta à pandemia, o desastre econômico, nada é problema. Problema é o que ocorre na Argentina, no Chile, na Colômbia, como se por aqui estivéssemos bem. E não estamos – nem mesmo na seara da corrupção, que ele tanto usa para atacar seu rival. O que falar dos bilhões entregues ao Centrão, que estão indo parar igualmente no bolso de corruptos? E das rachadinhas e afins?

Isso só para ficar em alguns dos assuntos que dominaram a disputa particular – e absurdamente superficial – entre o líder e o vice-líder das pesquisas.

O Brasil, repleto de problemas reais, a começar pelo desemprego em níveis estratosféricos, pelo derretimento do poder de compra da população, pela falta de educação e pela saúde pública em estado débil, é disputado por dois candidatos ilusionistas.

Noves fora os lampejos de realidade de outros concorrentes que dificilmente se converterão em votos suficientes para mudar o quadro eleitoral, o debate deste domingo mostrou que estamos num buraco, em queda livre e permanente, rumo ao fundo que nunca chega.

Uma pena. Mas o brasileiro gosta de falsos heróis, e adora ser enganado.

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