Entenda por que a tendência “old money” é considerada controversa

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Se vídeos de moda costumam aparecer na sua timeline do TikTok, provavelmente você já se deparou com algum look montado a partir da tendência old money. O termo, que significa “dinheiro velho (em tradução livre)”, é inspirado nos códigos de vestimenta usados pela elite norte-americana das décadas de 1970 e 1980. Após viralizar, o estilo começou a gerar discussões sobre o reforço de uma moda que é para poucos.

Vem entender!

Giphy/HBO Max/Reprodução

Apesar de ter sido exibida entre 2007 e 2012, a série Gossip Girl é o exemplo perfeito da tendência old money. Uma das protagonistas, Blair Waldorf, é o retrato desse estilo que agora bomba no TikTok. Pense nas suas interpretações a partir do uniforme escolar e nos looks montados para eventos como brunchs e jogos de polo.

Além de Blair, outros personagens também desfilam pelos episódios da série com peças chave do estilo: camisa polo, camisa de botão, coletes e suéteres, saias plissadas e tênis brancos. No quesito marcas, as norte-americanas Ralph Lauren e Tommy Hilfiger foram adotadas pela elite da época e voltam à tona graças à nova tendência

A atriz Leighton Meester nas gravações da série Gossip Girl em 2007. Ela é uma mulher branca e jovem, com cabelo ondulado grande, que veste camisa branca, gravata borboleta, saia e colete, ambos listrados, e um sobretudo preto e branco por cima
A personagem Blair Waldorf, vivida pela atriz Leighton Meester, é uma fonte de “referência” para quem quer montar looks na tendência old money

 

Personagens da série Gossip Girl na gravação em 2007. Na foto estão presentes 6 atrizes e 3 atores, entre eles Leighton Meester, Chace Crawford, Blake Lively e Penn Badgley
O figurino e todo o estilo de vida das personagens de Gossip Girl são o retrato da elite norte-americana que já é rica “de berço”

 

O ator Ed Westwick, um homem branco, jovem, de cabelo liso castanho, durante as gravações da série Gossip Girl em 2008. Ele usa uma camisa rosa de botao, uma gravata branca e um casaco estilo suéter azul
Peças de alfaiataria como camisas, calças sociais e suéteres são o uniforme dos meninos ricos dos Estados Unidos

 

Os atores Ed Westwick e Chace Crawford, ambos atores brancos e jovens, durante as gravações da série Gossip Girl em 2008. Eles usam roupas de verão como bermudas, sandálias, camisas e óculos escuros
A tendência old money exalta o estilo de vida dos ricos. Pense em férias na região dos Hamptons, em Nova York, e graduação em universidades como Harvard e Yale

Mais do que dinheiro

Apesar da moda ser sobre expressão e divertimento, é preciso entender o contexto histórico e social de tendências, roupas e marcas. Os debates sobre o estilo old money trouxeram à tona o uso da moda enquanto ferramenta de exclusão

O termo “dinheiro velho” faz referência ao fato de que essas famílias norte-americanas sempre foram ricas. Ou seja, são herdeiros que se fechavam em bolhas e aceitavam apenas quem também tem sobrenome. Nesse sentido, não bastava esbanjar dinheiro: era preciso vir de “berço”.

Brunno Almeida Maia, pesquisador em filosofia e teoria de moda pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma, em entrevista à coluna, que o estilo “criado” foi uma forma de diferenciar os ricos de berço dos chamados “novos ricos”. “O old money é o contrário do luxo ostentação da nova burguesia: é sobre uma elegância sóbria e sofisticada e também sobre a qualidade das peças”, explica.

Mulher jovem e branca, de cabelo longo liso e loiro, posando para foto na rua. Ela usa uma camisa branca e um suéter preto
Redes sociais como TikTok e Instagram estão lotados de referências para quem quer aderir à estética

 

Mulher jovem e branca, de cabelo longo liso e loiro, posando para foto na rua. Ela usa calça jeans, sapatos mocassins, sobretudo bege e um cachecol listrado
Itens considerados clássicos são parte do old money. Pense em acessórios como sapato mocassim e cachecol e roupas como o trench coat da marca Burberry

 

Mulher jovem e branca, de cabelo longo liso e ruivo, posando para foto na rua. Ela usa camisa de botão branca, suéter preto, saia branca plissada e bolsa rosa da Chanel
Apesar de negar a ostentação dos novos ricos, o uso de marcas está muito atrelado ao estilo. Destacam-se as americanas Ralph Lauren e Tommy Hilfiger, além de clássicas europeias, como Chanel e Dior

O pesquisador destaca que o primeiro problema da tendência é que toda a sua estética está pautada no acesso a “boas” marcas e alfaiates, ou seja, ao trabalho artesanal, o que já a torna excludente por si só. Em segundo lugar, Brunno pontua que o old money remete a uma parcela quase ínfima da população – a elite –, destacando desigualdades, especialmente em um país como o Brasil.

“Penso que, como o capitalismo já não tem mais o que inventar, ele retoma tendências e modos de vestir do passado. É a releitura da releitura da releitura”, destaca Brunno Almeida Maia. Para o pesquisador, a exclusão é reforçada também nas redes sociais, em que todo o estilo de vida da pessoa importa: os lugares que frequenta, a família e os amigos, entre outros fatores.

Mulher jovem e branca, de cabelo liso e castanho claro, posando para foto nas ruas de Paris. Ela usa shorts beges, camisa branca de botão, um suéter listrado preto e branco, sandálias de couro caramelo e coisa no mesmo tom de couro
A estética old money está sendo usada, nas redes socais, como sinônimo de elegância e sofisticação

 

Mulher jovem e branca, de cabelo liso e castanho claro, posando em região do litoral europeu. Ela usa um vestido branco justo, óculos escuros e um lenço de seda na cabeça
Para Brunno Almeida Maia, a problemática da tendência gira em torno do reforço à exclusão. É uma moda e um estilo de vida para poucos

 

Mulher jovem e branca, de cabelo liso e castanho claro, posando para foto em um carro de luxo. Ela usa uma camiseta branca com listras pretas, calça branca, cinto de couro e bolsa branca também de couro
Viagens, clubes sociais e posses são uma forma de provar que a pessoa é rica de berço

Mas, enquanto pesquisador, Brunno faz o exercício de olhar a tendência de forma macro e pontua que também há um lado positivo do old money. Ele acredita que quem adere à tendência o faz enquanto forma de escapismo, mas reforça a problemática da exaltação da exclusão social e financeira.


Colaborou Carina Benedetti

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