Se vídeos de moda costumam aparecer na sua timeline do TikTok, provavelmente você já se deparou com algum look montado a partir da tendência old money. O termo, que significa “dinheiro velho (em tradução livre)”, é inspirado nos códigos de vestimenta usados pela elite norte-americana das décadas de 1970 e 1980. Após viralizar, o estilo começou a gerar discussões sobre o reforço de uma moda que é para poucos.
Vem entender!
Apesar de ter sido exibida entre 2007 e 2012, a série Gossip Girl é o exemplo perfeito da tendência old money. Uma das protagonistas, Blair Waldorf, é o retrato desse estilo que agora bomba no TikTok. Pense nas suas interpretações a partir do uniforme escolar e nos looks montados para eventos como brunchs e jogos de polo.
Além de Blair, outros personagens também desfilam pelos episódios da série com peças chave do estilo: camisa polo, camisa de botão, coletes e suéteres, saias plissadas e tênis brancos. No quesito marcas, as norte-americanas Ralph Lauren e Tommy Hilfiger foram adotadas pela elite da época e voltam à tona graças à nova tendência.
Mais do que dinheiro
Apesar da moda ser sobre expressão e divertimento, é preciso entender o contexto histórico e social de tendências, roupas e marcas. Os debates sobre o estilo old money trouxeram à tona o uso da moda enquanto ferramenta de exclusão.
O termo “dinheiro velho” faz referência ao fato de que essas famílias norte-americanas sempre foram ricas. Ou seja, são herdeiros que se fechavam em bolhas e aceitavam apenas quem também tem sobrenome. Nesse sentido, não bastava esbanjar dinheiro: era preciso vir de “berço”.
Brunno Almeida Maia, pesquisador em filosofia e teoria de moda pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma, em entrevista à coluna, que o estilo “criado” foi uma forma de diferenciar os ricos de berço dos chamados “novos ricos”. “O old money é o contrário do luxo ostentação da nova burguesia: é sobre uma elegância sóbria e sofisticada e também sobre a qualidade das peças”, explica.
O pesquisador destaca que o primeiro problema da tendência é que toda a sua estética está pautada no acesso a “boas” marcas e alfaiates, ou seja, ao trabalho artesanal, o que já a torna excludente por si só. Em segundo lugar, Brunno pontua que o old money remete a uma parcela quase ínfima da população – a elite –, destacando desigualdades, especialmente em um país como o Brasil.
“Penso que, como o capitalismo já não tem mais o que inventar, ele retoma tendências e modos de vestir do passado. É a releitura da releitura da releitura”, destaca Brunno Almeida Maia. Para o pesquisador, a exclusão é reforçada também nas redes sociais, em que todo o estilo de vida da pessoa importa: os lugares que frequenta, a família e os amigos, entre outros fatores.
Mas, enquanto pesquisador, Brunno faz o exercício de olhar a tendência de forma macro e pontua que também há um lado positivo do old money. Ele acredita que quem adere à tendência o faz enquanto forma de escapismo, mas reforça a problemática da exaltação da exclusão social e financeira.
Colaborou Carina Benedetti
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