Jovem que ficou tetraplégico após queda de árvore no Parque não teve auxílio do GDF

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“Eu não digo que foi um milagre, mas sim, uma sequência de milagres contra todos os prognósticos que a medicina deu ao meu filho.” É assim, com bastante emoção, que a servidora pública Luciane Garcia descreve a recuperação de Pedro Miguel Rodrigues Cardoso, 15 anos, oito meses após ser atingido por um pinheiro de 20 metros, no Parque da Cidade, e ficar gravemente ferido.

Até hoje, a família alega não ter recebido nenhum tipo de auxílio do Governo do Distrito Federal (GDF) pela queda da árvore que deixou o adolescente tetraplégico.

O acidente ocorreu no Dia das Mães (8/5), por volta das 11h, enquanto a família do jovem se reunia em uma das churrasqueiras localizadas no Bosque dos Pinheiros. Pedro tirava um cochilo no gramado, no momento em que a árvore caiu e, por isso, não conseguiu escapar.

No local, ele chegou a sofrer uma parada cardiorrespiratória, mas teve o quadro revertido pelo Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF). “No momento da queda do pinheiro, eu estava deitada em uma das redes que instalamos nas árvores. Quando me levantei, já vi meu filho sem vida no chão. Entrei em desespero”, relembra a mãe de Pedro.

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Ao todo, foram 154 dias de internação, entre altos e baixos. Logo após o acidente, o adolescente foi encaminhado para o Hospital de Base e, quatro dias depois, transferido para o Hospital Anchieta, em Taguatinga.

Pedro passou por uma laparotomia para fechar uma pequena perfuração no estômago. Também por uma cirurgia de descompressão da coluna cervical, porque teve algumas vértebras e a medula atingidas em decorrência da queda do pinheiro. De acordo com Luciane, o filho também teve o crânio fragmentado em 22 pedaços, o que fez o cérebro inchar e ter coágulos.

“Foi um período muito difícil para nós. Eu estava no início da minha terceira gestação e tivemos que praticamente nos mudar para o hospital. Meu Pedro Miguel, ou Pedro Milagre, ficou onze dias sedado e entubado em estado gravíssimo. Depois, foi um longo período em que ele se comunicava apenas pelos olhos e sem conseguir se mexer. Posteriormente, teve que passar por um treinamento da fala”, conta Luciane.

Ainda, quando estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Anchieta, exames constataram uma lesão medular que afetou os movimentos de Pedro. Por conta do impacto do acidente, o jovem ficou tetraplégico, mas sem sequelas na parte cognitiva.

Em outubro do ano passado, após cinco meses hospitalizado, o adolescente pôde ir para casa com a família e iniciou um acompanhamento na Rede Sarah, especializada em atendimento de reabilitação.

“Foi uma bênção. Contra todos os diagnósticos possíveis, ele está aqui, consciente, sem traqueostomia, se alimentado muito bem. Quanto aos movimentos, temos certeza em Deus que é questão de tempo”, confia a servidora.

Para ajudar na rotina de cuidados em casa, a família conseguiu pelo plano de saúde do marido de Luciane uma cuidadora por período parcial. “A gente não teria direito pelo convênio, mas eles gentilmente cederam para gente, por enquanto, o serviço 6h por dia. Porém, logo a minha licença maternidade e a licença especial do meu esposo vão acabar e não teremos quem fique com ele”, relata.

Segundo a família, desde que houve o acidente no Parque da Cidade, o Governo do Distrito Federal (GDF) não prestou auxílio para Pedro. “Por isso a gente precisa tanto dessa prestação do GDF, que nunca se manifestou para nos ajudar, sob nenhuma hipótese. A assistência do poder público foi zero. Por isso, vamos entrar com uma ação na Justiça”, alega a mãe.

Escola

Quando ocorreu o acidente, o jovem de 15 anos tinha acabado de ingressar no primeiro ano do ensino médio. Por conta dos meses de internação, Pedro não conseguiu concluir o ano letivo e, em 2023, mesmo estando pronto para voltar a estudar de casa, nenhuma escola procurada pela família disponibiliza o ensino remoto.

“Eu fui na regional de ensino em Taguatinga para me informar se eles ofertam aulas online, pois temos a dificuldade de transporte. Como ele não está se movimentando, a gente precisa de ajuda para descê-lo nas escadas, então fica difícil fazer isso diariamente com horário para cumprir e sem alguém que possa acompanhá-lo na escola. Mesma situação nas escolas particulares que procuramos”, lamenta.

A notícia entristeceu a família, que alega falta de acessibilidade de ensino a adolescentes que não podem assistir às aulas presencialmente no DF. A solução encontrada pela família, até então, é que ele conclua o ensino médio com supletivo ofertado pela Educação de Jovens e Adultos (EJA), apenas quando ele completar 17 anos.

“A gente queria que ele tivesse um acompanhamento normal, como os outros adolescentes da idade dele. Aqui em casa, ele tem condições de acompanhar as aulas pelo computador. Hoje em dia a gente escuta falar tanto de acessibilidade, de dar as mesmas oportunidades, então porque não existe essa possibilidade pro meu filho?”, indaga Luciene.

Durante o dia, Pedro utiliza uma tecnologia brasileira chamada Colibri, que possibilita pessoas com deficiências motoras usarem computadores e dispositivos móveis com movimentos da cabeça e piscar de olhos. O aparelho fica instalado na armação dos óculos dele e funciona como um cursor de um mouse.

Bosque dos Pinheiros

Três meses após a queda do pinheiro em cima de Pedro, o galho de uma outra árvore do bosque atingiu três veículos no estacionamento 4, em frente ao Gibão. No dia seguinte ao ocorrido, a Secretaria de Esportes e Lazer do DF, junto com técnicos da Novacap, anunciaram que estudavam a substituição da área de Bosque dos Pinheiros por espécies do cerrado.

No mês seguinte, em razão do risco de queda de mais árvores, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) bloqueou o acesso ao estacionamento situado próximo ao bosque. A área foi isolada em setembro e permanece fechada por tempo indeterminado.

O que diz a Novacap

Por meio de nota, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), responsável pela vistoria da vegetação do parque, informou que nas vistorias realizadas durante maio de 2022, período em que houve o acidente, verificou-se que 250 pinheiros, da espécie Pinus Elliottii, apresentavam diversos problemas como: risco potencial de queda, inclinação acentuada da copa, podridão na base do tronco, cerne exposto, além de inúmeros galhos secos que poderiam causar acidentes.

Para evitar os riscos de novos acidentes, a companhia providenciou a supressão dos indivíduos arbóreos mais críticos, instalação de placas alertando sobre o risco de desprendimento de galhos e proibição da fixação de redes nos pinheiros e interdição das churrasqueiras com fita zebrada.

“Foi realizada reunião entre a Novacap, a Administração do Parque e membros da SUPAC, quando foi sugerido a elaboração de plano de manejo a ser amplamente discutido com o objetivo de se alcançar a melhor solução possível”, pontuou.
“Após as tratativas legais a serem adotadas pela Secretaria de Estado de Esporte e Lazer, juntamente com a SUPAC com relação ao plano de manejo e posterior envio à Novacap, para substituição gradual dos pinheiros, os serviços terão continuidade”, informou.

O que diz a Secretaria de Esporte e Lazer

Procurada pela reportagem do Metrópoles, a Secretaria de Esporte e Lazer, responsável pela administração do Parque da Cidade, não se manifestou até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

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