O primeiro investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura atos e omissões em 8 de janeiro entregou aos deputados um memorial com detalhes sobre a segurança no dia, quando houve tentativa de golpe em Brasília. O documento, enviado para distritais da Câmara Legislativa, contém prints de mensagens de integrantes das forças policiais que deveriam conter a “tomada do poder” divulgada por bolsonaristas.
As provas foram fornecidas pelo primeiro depoente da CPI, o ex-secretário executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) Fernando de Sousa Oliveira, que era secretário interino do órgão enquanto o então titular da pasta, Anderson Torres, estava de férias nos Estados Unidos. Nas 25 páginas, o memorial expõe como policiais relataram um clima bem diferente daquele que acabou sendo criado na Praça dos Três Poderes.
Policiais se referiram à movimentação para os atos antidemocráticos usando termos como: “Clima tranquilo”, “caminhada pacífica para a Esplanada” e “ânimos pacíficos”. As mensagens eram enviadas em grupos de WhatsApp com vários integrantes das forças de segurança — denominados de “Perímetros de segurança” e “Difusão” — e diretamente para Fernando.
Sem ter recebido nenhuma orientação específica de Torres sobre o dia 8 nem ter sido apresentado à Ibaneis Rocha (MDB), o secretário interino pediu relatórios de monitoramento sexta e sábado. Em 7 de janeiro, policiais que observavam a chegada de manifestantes e o movimento em frente ao Quartel-General do Exército de Brasília não se preocuparam com o crescimento do ato.
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Às 18h11, um policial escreve: “Situação tranquila e sem alteração”, mensagem que repete 28 minutos depois. Outro PM publica às 23h26: “Normalidade”. O coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, ex-comandante do 1º Comando de Policiamento Regional (1º CPR) da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), que é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF), também passa avisos.
“Tudo normal. Sem problemas. Estamos atentos nas ruas, PMDF em condições. Todos bem orientados. Alto comando da PMDF tomou todas as providências”, compartilhou às 23h33. De madrugada, às 3h01, escreveu: “A informação que tenho é que está tranquilo até agora”.
O dia 8
Em umas das primeiras mensagens de 8 de janeiro, a subsecretária de Operações Integradas da Segurança Pública do DF, coronel Cíntia Queiroz de Castro, numerou a tropa. “A PMDF empregará um efetivo de 600 policiais militares, temos ainda o efetivo do Detran, CBMDF [Corpo de Bombeiros], DER e DF LEGAL.” O quantitativo alto foi reforçado por ela: “O efetivo está maior que o costumamos empregar”.
A coronel também repassava a Fernando as placas de ônibus que vinham chegando com mais manifestantes. Outra revelação dos prints é a de que as forças de segurança sabiam do teor do protesto antidemocrático e da possibilidade de crescimento. Bolsonaristas chegaram a nomear o ato como “tomada do Poder” ou “tomada pelo povo”, nomenclaturas que aparecem nas mensagens. Às 6h, Cíntia alertou: “A tendência é que o acampamento aumente e se estenda”.
Os policiais que monitoravam o QG do Exército, onde havia a maior concentração inicial antes da tentativa de golpe, davam relatórios informando “ânimos pacíficos”, previsão de “uma caminhada pacífica para a Esplanada às 13h” e “chegada de mais caravanas”.
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Os relatos contrastam com o que foi visto pelo Metrópoles em diversas ocasiões no QG, como quando houve agressões físicas há dias do 8 de janeiro, e também não retratam o que foi documentado no relatório da intervenção, que chamou o acampamento de “minicidade golpista”.
Nas últimas mensagens contidas no memorial, Fernando recebeu imagens aéreas da Esplanada dos Ministérios mostrando o baixo movimentode público e um aviso sobre o grupo que chegava. “Grupo mais adiantado sendo escoltado. Na altura do Estádio Nacional. Também ocupando duas vias da N1. Clima tranquilo.”
Os prints são usados por Fernando de Sousa para argumentar que ele não foi omisso na contenção da tentativa de golpe, apesar de ter sido criticado por ter tranquilizado Ibaneis e minimizado riscos uma hora antes da invasão à Praça dos Três Poderes. A defesa dele afirma, no documento, que Fernando repassava ao então governador mensagens idênticas àquelas que recebia.
“Em momento algum narrou para o governador um ambiente diferente do que era presenciado e acompanhado pelos agentes de segurança operacionais em campo, aliado a fotos e vídeos que recebia, uma vez que naquele recorte temporal da manhã de domingo, das 8h30 até aproximadamente 13h, chegaram informes com os seguintes dizeres “caminhada pacífica”, “Clima tranquilo”, “Sem alteração”, “Policiamento reforçado”, aliado a imagens de uma Esplanada praticamente vazia de pessoas”, aponta o documento.
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