
A foto de Daniel Guilarducci parece ter sido resgatada de algum baú com produções do século 19, mas foi tirada ainda neste ano. A intenção do registro é uma brincadeira proposta pelo diplomata para divulgar seu primeiro livro de poesias, “A Alquimia da Tempestade” (editora 7Letras, R$ 38).
Ducci, como gosta de ser chamado, se inspirou na lírica comum ao século 19, período em que reinava o romantismo no Brasil. Por isso, seus poemas trabalham estruturas e métricas clássicas, além de aplicar por diversas vezes a estrutura shakespeariana de sonetos.
Relação com o presente
Na primeira parte da obra, “Outros Poemas”, apresenta as últimas poesias que escreveu, considerados “atemporais”. Na segunda, “Alquimia da Tempestade”, estão os versos mais antigos, que revelam uma “autobiografia poética” do autor.
Seus temas mais comuns são o amor e a existência humana – assim como era no período em que buscou inspiração. No entanto, Ducci afirma que sua escrita se relaciona, de alguma forma, com o momento atual.
Clube de poesia
O gosto do diplomata pelo período romântico não veio por acaso. Em 1991, quando fazia o ensino médio no colégio Marista, Ducci reuniu-se com um professor de biologia, um coordenador pedagógico e 14 colegas de turma para fundarem o clube de poesia Nova Plêiade.
A inspiração para o surgimento do clube foi o filme “Sociedade dos Poetas Mortos” (longa de 1990 estrelado por Robin Williams). “Por isso, fazíamos encontros em locais incomuns da escola e desafiávamos uns aos outros para trazermos diferentes tipos de construções poéticas”, conta.
Dessa forma, Ducci e colegas conseguiram aprimorar sua escrita. A brincadeira resultou numa num livro-coletânea de poemas publicado em 1992. Apesar do sucesso, com a formatura dos participantes, o grupo se desintegrou em menos de dois anos.
Ducci, após 15 anos, foi o primeiro do extinto clube a escrever um livro de poesias individualmente. Confira um dos poemas escritos por ele na Nova Plêiade e incluído em “A Alquimia da Tempestade”:
Aos Bardos
Não vale o silvo, lânguido e sombrio,
por mais que do licor da vida eu beba
numa taberna – berço do Destino
a sibilar febril por sobre a mesa.
Dor e tristeza hei de levar comigo,
hei de partir em dois o amante asceta,
e no veneno ver melancolia
destilada nos sonhos do poeta…
sentir o toque n’alma a fantasia,
do tempo uma fração tornar-se ébria.
A me encantar no olhar do ser que trila,
crismo-me logo rei das epopeias.
Se não percebo o som do amor hilota,
sou pois o bardo, vulgo um idiota.