Crítica: “A Promessa” narra triângulo amoroso em meio a um genocídio

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    Diamond Films/Divulgação

    O cineasta irlandês Terry George começou a carreira escrevendo roteiros. É dele, por exemplo, a história do drama político, “Em Nome do Pai” (1993), dirigido por Jim Sheridan. Na trama, as injustiças sofridas por uma família em meio aos conflitos entre militantes do IRA e autoridades. Por trás das câmeras, o diretor se especializou em filmes históricos com forte veia crítica e violentas cenas de ação. Destaques para “Hotel Ruanda” (2004) e o novo “A Promessa” (2017).

    Estrelado por Oscar Isaac, Ana Khesarian e Christian Bale, o filme narra os enlaces passionais de um triângulo amoroso instados no olho do furação do massacre que dizimou 1,5 milhão de armênios, em 1915, durante a 1ª Guerra Mundial. O genocídio, promovido pelos turcos, encontra paralelo trágico na história da carnificina promovida pelo Nazismo na 2ª Guerra. Daí a importância do tema abordado, à revelia dos exageros da mise-en-scène e dramatização.

    O filme começa num vilarejo armênio no sul da Turquia, com o botânico Mikael Boghosian (Oscar Issac) preso a uma promessa de casamento. Ele sonha em um dia se tornar médico e usar o dote daunião, 400 moedas de ouro, para financiar o futuro de sua carreira na cosmopolita Constantinopla. “Gaste com sabedoria”, aconselha o pai da noiva, seu futuro sogro.

    Mas os ares de modernidade, boêmia e o convite ao prazer da grande metrópole (hoje Istambul), irá levar este apaixonado estudante de medicina para os braços da jovem Ana (Charlotte Le Bon), professora de dança e tutora das filhas do tio com quem mora. Recém-chegada de Paris e, assim como ele, da Armênia, ela vive um caso de amor conturbado com o jornalista Chris Myers (Christian Bale), responsável por reportar as selvagerias do conflito.

    A dor da perda
    No cinema, como se sabe, a abordagem de temas históricos, envolvendo personagens da vida real ou não, sempre será norteada por um certo toque de sentimentalismo, lampejos de licença poética e supervalorização da realidade. E, na maioria dos casos, sempre servindo como pano de fundo para uma bela história de amor. É o que move a essência da sétima arte desde os primórdios e assim vem sendo até hoje. E se for para fazer chorar, que mal há?

    É o que acontece aqui. Bem amarrada, a trama desse trio de amantes conduzidos pelos dramas do denso conflito político, questões morais e éticos, rasteiras do destino e boa dose de atração, traição e mentiras sinceras. O desfecho desse turbilhão de paixão e confusão de sentimentos em meio aos horrores é exemplar. “Nossa vingança será sobreviver”, vaticina um dos personagens, entre bombas, tiroteios e banho de sangue.

    O visual desta Turquia do início do século 20 é deslumbrante, embora às vezes um pouco maquiado por efeitos especiais desnecessários. E Terry George derrapa um pouco no maniqueísmo bobo comum em enredos polarizados pelo ódio e o terror que a guerra sempre traz. Como que tentando justificar culpados e injustiçados, bons e maus num cenário de extremos onde todos já perderam a razão. Até porque, no final de tudo, “A Promessa” fala sobre isso. Ou seja, a dor da perda, quando já se perdeu tudo.

    Avaliação: Bom

    Veja horários e salas de “A Promessa”.

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