Cinco motivos para ler o livro “Em Nome dos Pais”

    0
    354
    Sérgio Lima/Divulgação

    Matheus Leitão ainda não era jornalista quando ouviu falar sobre a repressão dos militares pela primeira vez. Aos 12 anos, ouviu dos pais, Marcelo Netto e Mirian Leitão, os primeiros relatos sobre as perseguições da ditadura. As histórias fisgaram o adolescente e, anos mais tarde, serviram de motivação para o livro “Em Nome dos Pais”, lançado nesta terça-feira (16/5), às 19h, na Livraria Cultura do Iguatemi.

    Na obra, Matheus revisita o passado dos pais, à época militantes estudantis filiados ao PCdoB, que foram presos e torturados nos porões dos quartéis. Apesar de toda a carga emocional, o jornalista buscou um relato sóbrio e histórico do processo. “Tentei ir atrás desse passado despido de questões ideológicas e certezas morais”, disse ao Metrópoles.

    “Em Nome dos Pais”, então, é um livro sobre o passado do Brasil, contado por um jornalista que, por sinal, é filho dos protagonistas. “Parto da história dos meus pais para entender como todos os participantes enxergam os eventos com o distanciamento do tempo”.

    Confira cinco motivos que tornam a leitura da obra indispensável:

    1. Self-Journalism
    A objetividade é um elemento crucial do jornalismo moderno. Porém, há quem ouse desafiar os dogmas. Matheus segue essa linha e envereda pelo self-journalism. Em bom português, ele conta a história mesmo estando envolvido emocionalmente com o fatos. O repórter teve contato com essa teoria ao estudar em Berkeley, nos Estados Unidos.

    Tive acesso a alguns documentos em 2004, mas me sentia desconfortável por conta do envolvimento emocional. Ao voltar dos EUA, comecei a me dedicar mais a essa apuração. Vi que não tinha problema [a relação com os pais], bastava ser claro quanto a isso

    2. Um Brasil que se esconde
    Com “Em Nome dos Pais”, Matheus crítica a forma como o Brasil lida com o próprio passado. No processo de apuração, o jornalista teve que usar a Lei de Acesso à Informação para descobrir nomes e fatos mantidos em segredo pelos militares.

    O Brasil lidou com esse passado diferentemente de alguns países vizinhos que foram mais fundo na investigação. Depois de 32 anos, os militares ainda conseguem vetar o acesso a diversas informações

    3. Sentimentos cruzados
    O jornalista, em certo momento, investigou a tortura sofrida pelos pais. Nesse processo, inclusive, teve contato com um oficial que foi apontado como um dos responsáveis pelas agressões.

    Fui atrás dele para dialogar, sem revanchismo. Mas toda a busca gerou sentimentos controversos. Senti raiva, ansiedade, angústia. O amor de um filho pelos pais é muito grande

    4. Cara a cara com o delator
    Para escrever o livro, Matheus teve que ouvir o homem que delatou os pais para os militares. O jornalista sabia que ele era uma peça fundamental no quebra-cabeça. Da busca, surgiu uma grande surpresa.

    Sempre foram conversas difíceis. Mas no caminho descobri que o codinome do meu pai era Matheus. Meu nome veio desse passado de militância

    5. Torturadores conhecidos
    Por meio de documentos e processos no Superior Tribunal Militar (STM), o repórter conseguiu desvendar e revelar o nome de dois torturadores de seus pais. As identidades são contadas no livro, entretanto, segundo o jornalista, sem um sentimento de vingança.

    Todo o livro é feito na tentativa de compreender esse passado, entender como essas pessoas enxergavam aquilo que elas faziam

    Arte/Metrópoles

    Artigo anteriorCiclista fica ferida após se envolver em acidente com caminhão
    Próximo artigoCONVITE: ARRAIÁ SEM ÁLCOOL E ABERTURA DO CIRCUITO DE QUADRILHAS JUNINAS DO DF