Crítica: “Copo de Leite” reafirma a ancestralidade da mulher negra

    0
    346
    Divulgação

    Sexualidade, envelhecimento, companheirismo, arte e ancestralidade. Todos esses elementos são abordados e enriquecidos pela peça “Copo de Leite”, em exibição gratuita na sede da TAO Filmes (711 Norte) entre sexta-feira (19/5) e domingo (21).

    As atrizes Gabriela Correa e Lucélia Freire conseguiram abordar todos os temas de maneira leve, divertida e de fácil assimilação. Ali, cada risada custa uma pontada de dor pela consciência que acomete o espectador ao trazer à tona os problemas que vive a mulher negra na atualidade.

    A descoberta da sexualidade, que se dá pelas personagens da trama após assistir ao programa da Fátima Bernardes, configura-se como um dos pontos mais divertidos da peça.

    À espera do homem que nunca chega em casa e sem muita consciência do que é, de fato, o prazer sexual, elas acabam descobrindo o orgasmo sozinhas. O ato é realizado (comicamente), com a ajuda de algumas tangerinas.

    Divulgação

    Solidão
    É essa descoberta na solidão que perpassa toda a narrativa da peça. À espera de uns e sobrevivendo a outros, elas mostram que o companheirismo deve ser encontrado ali, entre elas, e na ancestralidade da raça, que é expressa principalmente pela arte.

    Mais do que fornecer uma metalinguagem, pois atuar se configura como uma expressão artística e, portanto, um grito contra a solidão, “Copo de Leite” propõe uma saída aos problemas que escapa à organização racional da sociedade ocidental: o lamento das dores pelo canto e pelo som do tambor.

    Esse momento, em que Gabriela entoa o refrão “Chorei” enquanto Lucélia toca o instrumento, é realmente libertador. Juntas, elas mostram ao público que não importa o que aconteça ou o mundo no qual se vive, ninguém pode roubar essa liberdade que a ancestralidade lhes oferece. Uma bela demonstração de que a arte nem sempre necessita verbalizar os problemas para se tornar política e atual.

    “Copo de Leite”
    Sexta (19/5), sábado (20) e domingo (21), às 20h30, na sede da TAO Filmes (711 Norte, bloco C, loja 05 – Rua das Oficinas). Entrada franca, com distribuição de senhas 1h antes do espetáculo começar. Há intérpretes em libras, para surdos, e texto em braille, para cegos.

    Artigo anteriorMorre aos 73 anos o artista plástico Felipe Ehrenberg
    Próximo artigoNove filmes e livros brasileiros que falam sobre as dores da homofobia