Crítica: “Real – O Plano por Trás da História” é comédia involuntária

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    Paris Filmes/Divulgação

    Em “Real – O Plano por Trás da História”, homens brancos engravatados desfilam por Brasília agitando maços de papel encharcados de números e urrando lugares-comuns sobre austeridade econômica e orgulho nacional. Seria o nosso “A Grande Aposta” (2015), a comédia baseada na bolha imobiliária de 2008?

    Seria se “Real” tivesse um mínimo de identidade própria. O diretor Rodrigo Bittencourt, da comédia “Totalmente Inocentes” (2013), formatou o longa como uma espécie de thriller de “época” (anos 1990) para mostrar como o Brasil venceu a inflação ao entrar no Plano Real. Quase um filme de heróis sem capa, forjados no ar-condicionado de escritórios.

    A ideia era divertir e informar, percebe-se, como uma retrospectiva semidocumental bem feitinha. Mas saiu um filme oportunista que pretende se aproveitar do terremoto político-econômico atual para defender um “mal necessário”.

    O protagonista é Gustavo Franco (Emílio Orciollo Netto), um dos economistas “por trás da história”. Para todos os efeitos, um neoliberal revoltadinho que trata a namorada (Paolla Oliveira) como mero acessório doméstico.

    A política no divã: caricaturas constrangedoras
    Esse sujeito misantropo e arrogante forma o time que o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso (Norival Rizzo), a serviço do presidente Itamar Franco (Bemvindo Sequeira), criou para ajudar o país a combater a inflação e bolar um novo plano econômico.

    “Real – O Plano por Trás da História” tenta de todas as formas não entrar no economês. Por outro lado, é um projeto histriônico de maneiras constrangedoras.

    Ao querer tornar o assunto “cinematográfico”, o filme apela para diálogos escandalosos (sim, os personagens estão sempre gritando), bordões gastos (“precisamos salvar o Brasil!”) e um desfile de caricaturas reducionistas – nesse sentido, o petista demagogo (Juliano Cazarré) surge como alvo preferencial.

    “Real – O Plano por Trás da História” parece mais sintoma do que consequência de um Brasil de incertezas. Os tempos pedem autoexame, reflexão, informação. O filme entrega um jogral que acumula ânimos exaltados e ideias tortas de progresso.

    Avaliação: Ruim

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