Crítica: “Divinas Divas” mostra as dores e as delícias de ser travesti

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    Quem assistiu a peça “Divinas Divas”, que ficou em cartaz por dez anos no Teatro Rival do Rio de Janeiro, pode pensar saber o suficiente para compreender o cotidiano das oito (e octogenárias) atrizes travestis do espetáculo. Porém, o documentário dirigido por Leandra Leal, de mesmo nome, mostra a muito mais intensa vida nos bastidores.

    Com o objetivo de mostrar as dores e as delícias de ser (e se revelar) travesti no Brasil, o filme se aprofunda nas histórias mais marcantes de Jane Di Castro, Rogéria, Divina Valéria, Camille K., Brigitte de Búzios, Fujika de Holliday, Eloína dos Leopardos e Marquesa – as oito divas do Teatro Rival, também são conhecidas por marcar o cenário artístico brasileiro nos anos 1960 e 1970.

    Pioneiras, as atrizes encararam a repressão da ditadura militar e o preconceito enraizado na sociedade brasileira. Dessa forma, conseguiram viver plenamente a sexualidade, em meio a sorrisos e superação de desavenças.

    A direção de Leandra foi vital para o funcionamento da narrativa. Ao invés de apenas contar a história das oito atrizes, a diretora permitiu que elas contassem cada um dos acontecimentos em entrevistas individuais – entremeando-as com ensaios do espetáculo do Teatro Rival.

    Assim, é possível ver as atrizes desvelando fatos dolorosos enquanto treinam os passos que, logo mais, a tornarão glamurosas e alegres em cima do palco. Os fatos relembrados, que por si já são capazes de deixar o espectador cabisbaixo, tornam-se leves diante da dança e das sessões de maquiagem, apontando a capacidade que as travestis tiveram em lidar com os reveses da vida.

    Mais do que ser um documentário que alerta para a invisibilidade da dor trans, que se esconde por detrás de longos vestidos, rostos maquiados e muita plumagem, trata-se de um longa que revela como a arte permite a expressão da sexualidade. E como a sexualidade expressa ao público importa a cada indivíduo.

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