Crítica: “Boneco de Neve” desperdiça boa história com soluções fáceis

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    Universal Pictures/Divulgação

    “Boneco de Neve” chega aos cinemas com a quase irresistível credencial de novo “Millennium”, a série literária do sueco Stieg Larsson que ganhou trilogia cinematográfica na língua-mãe e caprichada versão em Hollywood pelas mãos do diretor David Fincher (“Zodíaco”, “A Rede Social”).

    Escrito pelo norueguês Jo Nesbo, “Neve” pertence a um extenso universo de livros que acompanha o detetive beberrão, depressivo e solitário Harry Hole. Apesar da clara tentativa de se aproximar do subestimado “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” (2011), assinado por Fincher, a novidade sequer merece o “elogio” de thriller genérico.

     

    Nos amplos espaços negativos e brancos de Oslo, capital da Noruega, Hole (Michael Fassbender) mal consegue morar sob o próprio teto. O apartamento, praticamente abandonado, está infestado de pragas e mofos. Investigador perspicaz, mas amargo, o metade policial, metade andarilho precisa de um novo caso para injetar um pouco de adrenalina em seu cotidiano.

    Assim que cai a primeira neve do inverno, tombam as novas vítimas de um serial killer que há anos escolhe sempre o mesmo tipo de presa: mulheres com filhos em casamentos aparentemente infelizes. O mote é semelhante ao de “Millennium”: tratar a misoginia cotidiana como uma doença social que se revela das maneiras mais escabrosas e violentas possíveis.

    Suspense desconjuntado
    A direção do sueco Tomas Alfredson, o talentoso cineasta de “Deixa Ela Entrar” (2008) e “O Espião que Sabia Demais” (2011), deveria garantir algum frescor visual e narrativo a “Boneco de Neve”.

    O que acontece é justamente o contrário: dificuldade para encaixar a agente novata Katrine Bratt (Rebecca Ferguson) na investigação e dar algum sentido à multidão de coadjuvantes, como o industrial vivido por J.K. Simmons e o investigador alcoólatra (mais um) interpretado por Val Kilmer.

    O turbulento bastidor de “Boneco de Neve” informa que o filme foi sabotado por cortes de orçamento, sendo que o próprio diretor reclamou publicamente. Ainda assim, fica a sensação de que certos problemas têm mais a ver com a falta de visão artística suficientemente sólida para sustentar a ambiciosa história a ser contada.

    Trata-se de um thriller investigativo bizarramente conduzido, com viradas de roteiro mirabolantes e arestas imperdoáveis para uma trama que se julga tão intrincada – a revelação do assassino nocauteia o já trôpego roteiro, por exemplo. Folhetins policias merecem um tanto mais de carinho criativo.

    Avaliação: Ruim

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