
Uma pesquisa divulgada pelo instituto Kantar reforça o que todos nós já sabíamos: a novela, gênero televisivo mais querido da América Latina, continua sendo o preferido dos públicos que acompanham a programação da televisão aberta. O folhetim é o mais querido em sete dos 11 países pesquisados pelo observatório de mídia no continente.
Jornalista e pesquisador de telenovelas, Cláudio Ferreira tem uma explicação bem simples para a continuidade do fenômeno dos folhetins nos corações e mentes latino-americanos. “Os novos modelos de consumo dos programas de televisão via streaming ou downloads de programas pela web exigem familiaridade do público com a internet”, explica.
“Existe um grupo de pessoas mais velhas de gente na faixa etária dos 40, 50 anos que ainda é fiel ao jeito tradicional de assistir às novelas. A revolução da televisão digital ainda é muito recente e é uma coisa de nicho que talvez não atinja a audiência conservadora que gosta de ver a programação tradicional de novelas”, acredita Cláudio Ferreira.
Parte importante da indústria cultural brasileira, as novelas são um produto de exportação tão importante quanto o café ou o açúcar. A rede Globo exporta novelas há 40 anos e todos os títulos juntos já arrecadaram o equivalente ao PIB de muitos países.
Nos últimos anos, porém, a primazia do mercado latino-americano ocupado pela emissora carioca entrou em estado de alerta. Embora as novelas globais ainda façam parte do gosto do público latino-americano, existem mudanças formais sendo instituídas no setor para adaptar melhor os produtos aos consumidores.
Para atingir o mercado internacional, o estúdio do Projac teve de se adaptar à ânsia do público externo. Entre outras alterações, os dramaturgos tiveram de diminuir o número de episódios de cada folhetim, enxugando suas tramas para cerca de 60 capítulos.



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No mercado interno, a Rede Globo tem disputado a preferência do público com os dramas religiosos da Record, emissora da Igreja Universal do Reino de Deus. Aproveitando-se do forte cristianismo presente na região, as tramas bíblicas têm alcançado um público cada vez maior no continente sul-americano.
Outra concorrente de peso atravessou oceanos para ameaçar a hegemonia das novelas brasileiras na América Latina. Com boa qualidade técnica de fotografia e produção, os folhetins produzidos na Turquia têm alcançado um público voraz por dramas familiares e temas universais que sempre sensibilizaram plateias desde que o mundo é mundo.
Uma amostra desta ameaça foi o pífio desempenho da Globo na premiação do Emmy Internacional 2017. Indicada em nove categorias, a emissora dos irmãos Marinho saiu de mãos abanando sem nenhum troféu e foi desbancada pela novela turca “Kara Sevda” (“Amor Sem Fim”, em tradução livre), transmitida para Argentina, Chile, Colômbia e Peru antes de chegar ao Brasil.