Clássico livro de crônicas de Drummond ganha nova edição após 29 anos

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    De uma timidez constrangedora e comportamento social irretocável, Carlos Drummond de Andrade não gostava do apelido “poeta maior”. Toda vez que alguém saia com essa, ele rebatia com fina ironia. “Murilo Mendes, 1,80m, tem oito centímetros a mais”, divertia-se, referindo-se ao colega também mineiro.

    Mas além de grande poeta, Drummond também era um cronista de mão cheia. Uma boa chance de recuperar a fase de autor de crônicas do escritor está na reedição de “Carlos Drummond de Andrade – Autorretrato e Outras Crônicas”.

    Trata-se de um relançamento comemorativo dos 75 anos da editora completados em 2017. O primeiro lançamento em 1989 já tinha carga simbólica e fazia homenagem a Drummond, falecido dois anos antes. No mesmo ano, foi inaugurado o Parque Gráfico da Record, publicando livro com 57 crônicas do autor publicadas entre 1943 e 1970 em revistas e jornais como o “Correio da Manhã” e “Jornal do Brasil”. A organização ficou por conta do crítico literário, Fernando Py.

    “Optei por escolher, de preferência, aquelas [crônicas] não apenas significativas da prosa drummondiana, como também as que se mostrassem atuais, ou seja, não trouxessem a restrição da marca do tempo muito evidente”, escreveu o crítico na apresentação do livro há quase 30 anos.

    Reprodução

    Charge comemorativa do lançamento da Editora Record

     

    A atual presidente da editora Sônia Machado Jardim justifica o processo de escolha por Drummond. “Foi difícil. A história da Record, ao longo dos seus 75 anos, tem tantos momentos emblemáticos, tantos desafios conquistados, tantos autores e livros de sucesso, que a decisão não foi fácil”, conta.

    Crônicas com pinceladas de lirismo
    Como ilustrações e registros iconográficos, o livro traz, entre outras coisas, uma foto sensacional do poeta e o escritor baiano Jorge Amado celebrando o Dia da Árvore, em 1984, na Record. Também fac-símiles de contratos da publicação de um livro infantil de Drummond e correspondências trocadas entre o autor de No Meio do Caminho e Alfredo Machado, um dos donos da editora fundada em 1942.

    Drummond se sobressai pela ironia, humor bem mineiro, tom coloquial e simplicidade na escrita. Entre um parágrafo e outro, como não podia deixar de ser, pinceladas de lirismo, como mostra a crônica Mal de Coqueiro, dedicada a uma menina de Sergipe que não para de crescer chamada de Belisca Lua.

    Por isso, não sei se lamento, não sei se cumprimento, Belisca Lua, a moça sergipana que está crescendo sempre, como o custo da vida

    Carlos Drummond de Andrade

    Em Caso de Joaquim, publicada em novembro de 1967, também no Correio da Manhã, o poeta e cronista, um observador perspicaz das mazelas do cotidiano, expõe com crítica social, os dramas de um servente de autarquia condenado a uma prisão – já naquele tempo – superlotada, após se deixar subornar. A sorte lhe sorrir com desfecho exemplar e kafkaniano.

    Reprodução
    Autorretrato e Outras Crônicas
    Carlos Drummond de Andrade. Editora Record. 256 páginas. R$ 39,90

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