Maria Gal: “Um Brasil sem memória com um quê de mediocridade cultural”

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    Com carreira extensa no teatro, TV e cinema, Maria Gal — atual intérprete de Gleyse, na novela As Aventuras de Poliana, do SBT — tem se dedicado a fomentar a inclusão de artistas negros, em especial as mulheres, no audiovisual. A atriz e empreendedora abriu a Maria Produtora e já está em fase de captação de recursos para a série Os Souza.

    De acordo com Maria Gal, nos últimos anos houve uma pequena melhora em relação à contratação de negros para dramaturgia e publicidade, mas ainda há muito para alcançar. “A nossa missão é aumentar o protagonismo negro feminino”, reforça a atriz, em entrevista ao Metrópoles.

    A trama de estreia da produtora narra o caminho de uma família negra que enriquece e transforma radicalmente o estilo de vida. “É essencial uma mudança nos tipos de papéis oferecidos a negros, mas na produtora vamos mudar, também, esses paradigmas”, afirma Maria.

    Segundo a artista, para quem opta por trabalhar com arte, é muito difícil escolher ou recusar papéis, já que todos precisam “sobreviver e pagar contas”.

     

    Criminalização da classe artística
    Gal vê com tristeza a maneira como a classe artística tem sido criminalizada por parte da população. Artistas que utilizaram as redes sociais para manifestar apoio a candidatura de Fernando Haddad à Presidência da República receberam uma enxurrada de críticas nas quais são acusados de “mamar nas tetas do governo” através da Lei Rouanet. “As pessoas nem entendem como funciona [a legislação], acham que após um projeto aprovado é só ir lá sacar o dinheiro”, questiona a atriz.

    É um quadro pavoroso de desinformação. Um país sem memória e uma classe média com um quê de mediocridade cultural, que se orgulha dessa espetacularização do machismo e do racismo, como se a vida humana não valesse nada

    Maria Gal

    Maria Gal conta que muitos desses preconceitos estão sendo representados por sua personagem na trama do SBT. “A Gleyse é uma típica mulher brasileira, batalhadora, que cria os filhos sozinha e deseja uma vida melhor para eles”, comenta a atriz que ressalta, ainda, a importância de temas como esses serem tratados em uma novela com grande público infantil. “Estamos formando a mentalidade das novas gerações”, considera.

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