Arquitetura sustentável une meio ambiente à construção civil

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Arquitetura sustentável
Neste projeto do arquiteto Michel Habib, em Atibaia, foram adotados sistemas construtivos não só ecologicamente corretos mas, também, ricos culturalmente e com atitudes socialmente justas. Crédito da foto: Divulgação

A preocupação com o meio ambiente e com a sustentabilidade também chegou ao mundo da construção civil e da arquitetura. Cada vez mais o setor tenta encontrar tecnologias e novas maneiras de construir moradias sustentáveis. Mas, você sabe o que é uma casa sustentável e quais conceitos definem a arquitetura sustentável?

Para falar sobre o assunto, o Casa & Acabamento conversou com o arquiteto Nicholas Abdalla, que atua em projetos de arquitetura sustentável. Segundo ele, o conceito começou a ser discutido mais amplamente a partir de 1972, no contexto da conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente, que foi realizada em Estocolmo, na Suécia. O arquiteto afirma que a temática surgiu pela necessidade de se pensar soluções para a crescente degradação e poluição ambiental ao redor do mundo.

Arquitetura sustentável
O arquiteto Nicholas Abdalla, de Sorocaba, especializou-se em projetos sustentáveis. Crédito da foto: Divulgação

“Desde então, o conceito foi sendo lapidado em outras conferências internacionais e abrangendo novas noções. Atualmente, muitos especialistas preferem utilizar o termo desenvolvimento sustentável, pois abrange as dimensões econômicas e sociais da vida coletiva, com o objetivo de tornar as cadeias produtivas contemporâneas da construção civil e da arquitetura mais respeitosas à natureza e às culturas pré-estabelecidas”, diz.

O arquiteto aponta ainda que a partir de 1980 a arquitetura e a indústria da construção começaram a acompanhar essa mudança de paradigma e buscam se enquadrar às novas exigências ambientais. “A evolução da arquitetura sustentável se dá por meio da inovação de técnicas e materiais comandada pelo mercado, mas também pelos profissionais da área, por meio de estudos e reflexões sobre como tornar as construções mais ambientalmente responsáveis”, diz Nicholas.

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De acordo com o profissional, a arquitetura sustentável não se preocupa somente com o respeito a natureza e ao meio ambiente, mas também com os trabalhadores da construção civil e os moradores.

“Um projeto arquitetônico sustentável deve se preocupar com a escolha de materiais e técnicas que minimizem o impacto ambiental. E também com a segurança e as condições de trabalho dos operários no canteiro de obras e com o modo de vida existente naquela territorialidade, seja uma casa de família ou uma comunidade. É preciso buscar potencializar relações econômicas e sociais benéficas àquela população. Por isso, quando falamos em sustentabilidade estamos falando de sustentabilidade ambiental, social, econômica e cultural”, destaca.

Casa sustentável

O que define uma casa como sustentável? O profissional afirma, por exemplo, que uma casa com placas fotovoltaicas instaladas em seu telhado não pode ser considerada sustentável ou ecológica. De acordo com o arquiteto, para uma edificação ser considerada sustentável ela necessita de um selo que comprove suas características.

“Existem diversos selos, os quais exigem requisitos diferentes. Entretanto, devemos sempre pensar sobre a validade e os critérios que estes selos compreendem. Vejo construções ditas ecológicas e que portam o selo, mas que deixam a desejar em muitos quesitos”, diz.

Arquitetura sustentável
A escolha dos materiais e das técnicas devem minimizar o impacto ambiental. Crédito da foto: Divulgação

Para que o projeto arquitetônico de uma casa possa ser considerado sustentável é necessário levar em consideração que a sustentabilidade envolve não só a questão ambiental, mas também a econômica, social e cultural. Nicholas afirma que na dimensão ambiental é preciso pensar em construções que consumam a menor quantidade possível de energia elétrica e de recursos, tanto para sua construção quanto para seu funcionamento.

“Devemos utilizar materiais e mão-de-obra locais, maximizar o uso de materiais naturais ou reaproveitados (os quais não emitiram poluentes para sua produção e podem custar menos), racionalizar a construção para que não haja retrabalhos e desperdícios, implantar sistemas de geração de energia elétrica (como por exemplo, painéis solares e cata-ventos), sistemas de captação de água da chuva e reaproveitamento de águas provenientes da máquina de lavar e do chuveiro (utilizando filtragem natural) e sistema alternativo de esgoto — como por exemplo, a fossa de bananeira (canteiro bio-séptico)”, diz.

Outro ponto importante que o profissional destaca nas construções sustentáveis é o conforto térmico das edificações e a importância da redução do consumo de energia para resfriar ou aquecer as casas. “A utilização de paredes de terra e de madeira é adequada para isso, pois são materiais que mantém o calor no inverno e demoram a esquentar no verão”, destaca.

Além disso, é possível projetar cômodos com ventilação cruzada (abertura em dois pontos opostos num mesmo cômodo), janelas altas (sheds) para saída do ar quente e implantação de telhado verde, que além de tornar o clima interno da edificação mais agradável, aumenta as áreas permeáveis das cidades e ainda podem produzir alimentos, temperos e etc. “Também devemos respeitar ao máximo as espécies de plantas e árvores existentes no terreno, a não ser que você possa utilizar a madeira de uma árvore na construção, por exemplo”, cita o arquiteto.

Além das questões estruturais, o profissional também defende a sustentabilidade cultural e a ampliação da visão dos moradores sobre o conceito de moradia. “O que adianta morar em uma construção de baixo consumo energético e de recursos se, no final do dia, você não separa o lixo orgânico do reciclável? Ou, ainda, se você demora 30 minutos no banho?”, questiona. Para ele, é necessário que a humanidade caminhe conscientemente em direção à sustentabilidade e a preservação das gerações futuras. “Acredito que a arquitetura e a construção civil podem ser um excelente instrumento pedagógico para todos nós”, diz.

Ainda são poucas as obras 100% sustentáveis

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A sustentabilidade envolve não só a questão ambiental, mas também a econômica, social e cultural. A economia de energia e recursos deve ocorrer no funcionamento da casa, mas também em sua construção. Crédito da foto: Divulgação

De acordo com Nicholas, as construções consideradas 100% sustentáveis ainda são poucas, tanto no Brasil, quanto no mundo. Nicholas afirma que isso ocorre por conta do modo de vida contemporâneo, que em si já é insustentável.

“Toda construção, atualmente, se utiliza de materiais que consumiram muita energia para serem produzidos e transportados. O entulho, por mais que se tente reduzi-lo, irá poluir o meio ambiente. O concreto, que para ser produzido gera uma enorme emissão de poluentes, não é biodegradável. Além disso, é o segundo material mais consumido no mundo, perdendo apenas para a água. Isso nos mostra que temos um longo caminho a percorrer”, pondera.

Apesar disso, ele aponta que está ocorrendo atualmente uma proliferação de experiências de construções sustentáveis, como as chamadas ecovilas e agrovilas. A criação da cota ambiental dentro do Plano Diretor da cidade de São Paulo, a qual estabelece e exige medidas para que reformas e novas construções contribuam com a drenagem de águas da chuva e com o microclima e biodiversidade do município, são considerados bons exemplos.

“Também estão surgindo no Brasil diversos centros de estudos e práticas em bioconstrução e permacultura (é um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio e harmonia com a natureza). Exemplo dessa experiência brasileira é o Tibá, que é um importante instituto de pesquisa e aplicação de técnicas ecológicas. Outro exemplo é o escritório Irina Biletska & Gonzalo Nadal, que desenvolve, na Bahia, casas sustentáveis muito interessantes, entre outros. Vale destacar também alguns movimentos mundiais que se inserem dentro do universo da arquitetura sustentável como o Earthship e Arquitetura Biomimética”, diz Nicholas. (Ana Cláudia Martins)

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