Neusa Gatto
Não vou. Não vou. Não vou. Sei o que pretende. E daqui não saio. Com olhos arregalados e meus “fuááásss” mais nervosos, indico a ela que não me tira daqui nem morto.
— Esse gato parece que sabe o que vai acontecer, ouço dizer pra mãe.
Pega ele e bota na sacola, diz a velha senhora.
— Bota na sacola? Quem ela pensa que sou? Uma alface?
De jeito nenhum, penso. Agora, tenho certeza! Coisa boa não pode ser. Antes, presumia, agora, sei.
— Fite, vem cá, fala ela pra mim. Vem aqui, agora!
Ela não sabe então que gatos não atendem ordens? Não aprendeu ainda?
E, zapt, sinto duas mãos me pegar com força.
Me enfureço. Grito, tento morder. Arranhar. Nada. Lá estou eu dentro da casinha. Aquela que ela usa pra me levar pras torturas de banho, vacinas…
Será? Perdi essa… penso um tanto resignado, não sem alardear no caminho toda minha indignação.
Chegamos a algum lugar. E, tão rápido como entramos, a porta se fecha. E a da casinha, se abre… Saio fuzilando pela sala. Corro prum canto. Mio, mio, mio. Berro alto.
A mulher forte de capa branca que circula pela sala, tem, nas mãos, algo que meu sexto sentido diz pra negar, negar, negar.
Chegam mais perto. Me acuo e dou patadas pra todo lado. Abro a boca. Mostro os dentes. Babo de raiva. E elas ali. À espera. Se aproximam…
Então, sinto um pano cair sobre meu corpo. Me cobre todo… penso, vou morrer….
— Isso, diz a mulher, traz ele aqui. Embrulhado como um pacote vou pra cima de uma mesa. Logo, uma picada nas costas.
Aos poucos me sinto entorpecer. Não, não durma, penso: não durma. Não é hora pra cochilo. Mas, é mais forte que eu e…
Ao longe ouço uma voz a dizer: vai dar tudo certo. A cirurgia de esterilização é rápida. No fim da tarde já pode vir buscá-lo.
E, então, adormeço.
Neusa Gatto é jornalista e produtora de vídeo
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