Um áudio que circulou num grupo de policiais militares no WhatsApp, um suposto PM ameaça com “fogo amigo” um dos novos integrantes da corporação. O alvo do ataque beijou o namorado durante evento de formatura de praças da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) no último sábado (11/01/2020). Na gravação, o autor da declaração diz que “pode até ficar calado, mas tem outros jeitos de ‘sancionar’ esse tipo de situação”.
A imagem de dois policiais militares, um homem e uma mulher, beijando os respectivos companheiros durante a formatura ganhou as redes sociais nos últimos dias. Eles passaram a receber tantos ataques homofóbicos quanto mensagens de apoio. A manifestação de carinho provocou a ira de conservadores de dentro e de fora da corporação.
Na gravação obtida o suposto PM demonstra irritação. Ele se refere ao militar do sexo masculino e seu parceiro que aparecem na foto como “viadinhos” e afirma que não aceitará a presença do recém-formado em sua equipe.
“Numa guarnição minha, um cara desse não entra. Se entrar, já ouviu falar em fogo amigo? Vocês conhecem o fogo amigo. Fogo amigo não é só atirar nos outros, não. Nós todos já fomos ‘plotados’, já fomos sancionados. Tenho quase 30 anos [de carreira] e sabe que tem isso mesmo”, afirma o suposto militar.
O desabafo segue com ameaças de perseguição, mesmo após a decisão do comando da corporação de proibir manifestações sobre o assunto por qualquer membro da Polícia Militar.
“Antigamente, o cara não podia nem ser cachaceiro que era queimado. Agora, ser viado, passar a mão na bunda e entrar de calcinha na viatura a gente vai aceitar? Porra nenhuma, meu irmão. Essa porra não mudou, não. A gente pode até ficar calado, mas tem outros jeitos de ‘sancionar’ esse tipo de situação”, completa.
“Adicionaremos este áudio ao nosso pedido ao Ministério Público e ao Comando da Polícia Militar para que apurem mais essa denúncia, pois ele incita os policiais a tomarem atitudes violentas contra os dois militares”, afirmou o deputado.
Ainda segundo Fábio Felix, “é um absurdo que as pessoas queiram condicionar a forma como as outras tomam conta de suas vidas. Na PM, as pessoas precisam honrar suas fardas. A Polícia Militar precisa cuidar da segurança dos dois”.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) abriu investigação, na última segunda-feira (13/01/2020), para apurar as declarações, consideradas homofóbicas, por meio do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação. Na quarta-feira, o MPDFT disse que o caso continua em apuração.
Na segunda-feira (13/01/2020), quando o caso veio à tona, a corporação informou, por meio de nota, que não concorda com quaisquer tipos de preconceito. “As críticas divulgadas em redes sociais são opiniões pessoais e não condizem com o ponto de vista do comando da corporação. Com o objetivo de evitar maiores exposições e controvérsias, nenhum integrante da corporação está autorizado a conceder entrevista sobre o assunto”, diz o texto.