As telenovelas são fórmulas gastas? (parte 2)

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João Alvarenga

Na última quinzena, fui cruel com a teledramaturgia brasileira, ao enfatizar que algumas novelas globais amargaram prejuízos, não só em termos de audiência, mas também em questões financeiras. Inclusive, observei que muitas delas saíram do ar antes do previsto, sem deixar saudades, pois a adesão do telespectador é fundamental para garantir a permanência de determinada atração na grade das emissoras.

Todavia, é inegável que, apesar de alguns voos desastrosos, o referido modelo de entretenimento fez escolas e serviu de inspiração às concorrentes. Assim, na tentativa de conquistar um público adepto a esse formato, cujas referências remontam os antigos “dramões” mexicanos, muitas emissoras também amargaram vários insucessos.

Mas, investimentos no setor não faltaram, principalmente da Record que, na esteira do Projac, também construiu seu complexo cinematográfico, no Rio de Janeiro, a fim de solidificar o projeto de novelas bíblicas. No entanto, essa nova perspectiva televisiva, embora tenha gerado mais uma frente de trabalho, custou a cair nas graças do grande público, tanto que “Metamorphoses”, de 2004, conviveu com baixos pontos de audiência na grande São Paulo. Até esse momento, a emissora de Edir Macedo não tinha estruturado a sua linha de produção.

A consagração dessa nova proposta só viria com a megaprodução “Os dez mandamentos”, de 2016, um projeto que envolveu uma equipe gigantesca. Escrita por Vivian de Oliveira, com direção geral de Alexandre Avancini, esse roteiro teve vida longa, tanto que migrou para as salas de cinema, ganhou até musical e despertou o interesse até de quem já havia assistido a versão hollywoodiana.

Atualmente, “Amor sem igual”, com uma temática avessa ao gênero religioso, vinha segurando uma média de 10 pontos de audiência, na faixa nobre, mas teve sua exibição suspensa por conta do Covid-19, cujas gravações foram interrompidas. Há quem diga que a direção da emissora tema que tal situação comprometa esse novo vínculo estabelecido com o telespectador.

De certo modo, vários fatores contribuem para que uma atração se torne sinônimo de sucesso na TV, a começar pela identificação do público com o produto, o que gera fidelidade. Antes, o chamado “padrão” Globo, defendido como um fator de qualidade, até pesava. Mas, com a chegada das tevês por assinatura, isso mudou. Além disso, a audiência, a partir do controle remoto, tornou-se instável.

Nesse contexto, o drama exibido pelo SBT, “Vende-se um véu de noiva”, de 2009, de Isis Abravanel, passou quase sem ser notado. Dizem, nos bastidores da emissora, que essa iniciativa abortou o projeto da “filha do patrão” de se tornar escritora de novelas, restando-lhe a condução dos populares programas de auditório.

Porém, antes disso, a jovem investiu em mais uma aventura, com a qual o SBT pôde sentir o gostinho do sucesso com a novela infantil “Carrossel”, uma adaptação do original mexicano. Essa produção permaneceu um ano no ar. Além disso, a Band também decidiu entrar nessa acirrada disputa. Inicialmente, exibiu algumas produções da TV turca, como a novela “Mil e uma noites”, exibida em 2017.

De certo modo, essa proposta, por explorar a cultura de um país exótico, além de apresentar um enredo consistente, não só chamou a atenção de um plateia afoita por novidades, como sedimentou seu horário de novelas, após o Jornal da Band. A ideia parecia absurda, uma vez que, por muitos anos, a emissora de João Saad ostentou o título de “canal do esporte”; no entanto, o projeto ganhou força, tanto que “Ouro verde”, importada das terras lusitanas, segue como uma opção a mais de lazer. Assunto da próxima quinzena: a persistência do pop.

João Alvarenga é professor de Língua Portuguesa, mestre em Comunicação e Cultura, produz e apresenta, com Alessandra Santos, o programa Nossa língua sem segredos, que vai ao ar pela Cruzeiro FM (92,3 MHz), às segundas-feiras, das 22h às 24h.






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