Filmes da Netflix: ’Rastros de um sequestro’

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Filmes da Netflix: ’Rastros de um sequestro’
Jin e Yu, vítimas indefesas da crise financeira e fiscal de 1997. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti – [email protected]

Caro leitor, aconselho que assista aos filmes antes de ler os artigos que venho escrevendo sobre alguns títulos da Netflix. Os artigos contêm spoilers, ou seja, revelam informações importantes que podem prejudicar a assistência, porque fornece antecipadamente ao leitor as surpresas contidas no filme. O spoiler é especificamente prejudicial em filmes como este “Rastros de um sequestro”, da Coreia, de 2017, que combina suspense, psicologia, horror, vingança e, principalmente, política.

Afora perseguição de carros — clichê em “filmes de ação” e inútil para a trama –, o resto do filme prende a atenção porque é cheio de reviravoltas que surpreendem e desorientam o espectador. Quando ele inicia, tomamos contato com uma família muito bem estruturada: Jin, o filho caçula de 21 anos, seu irmão Yu, a mãe e o pai. Mas, com o desenrolar dos acontecimentos, as coisas vão mudando e os últimos 25 minutos do filme mostram um quadro totalmente diferente do que estávamos acompanhando. E aqui está, me parece, o que dá sentido ao filme, que adquire caráter essencialmente social porque transcorre em meio à crise asiática financeira e fiscal de 1997.

A crise começou na Tailândia e se propagou pela Indonésia, Malásia, Filipinas, Japão e atingiu a Coreia, colocando em pânico os mercados mundiais. Como aconteceu em 2008, a crise não foi antecipada por instituições mundiais como o FMI, BIRD ou regionais como o Asian Development Bank, mas não faltaram explicações posteriores porque, como sabemos, os economistas desses órgãos são ótimos “para explicar amanhã por que o que previram ontem não deu certo hoje”.

Mais do que o desemprego e a perda das posses dos que se iludiram com a prosperidade do país, a crise provocou profundas transformações na personalidade individual. É disso que trata “Rastros de um sequestro”.

As desventuras de Jin, de Yu e do médico são determinados pela crise, da qual não tiveram culpa, mas, como sempre ocorre, arcaram com as consequências. Tudo o que pensávamos conhecer de Jin e Yu é virado de cabeça para baixo na quarta parte final do filme. Descobriremos que Jin, desesperado em levantar o dinheiro que salvaria o irmão legítimo hospitalizado, é humilhado quando procura trabalho, tenta vender seus órgãos e vê-se forçado a aceitar a incumbência de matar a esposa do médico. Seu último gesto de grandeza é assumir o assassinato de mãe e irmã de Yu. O médico também estava falido por causa da crise e havia feito seguros em nome da mulher com o intuito de matá-la; é o meio que encontrou de evitar que os filhos fossem “morar na rua”. Yu, movido pela necessidade de vingança da morte da família havia sido posto em orfanato e espoliado de sua herança por parentes que se aproveitaram da sua pouca idade; quando percebe o erro de avaliação que cometeu durante 20 anos, também se suicida. Jin e Yu foram levados a praticar atos brutais de que se julgavam incapazes de realizar e não aceitando o fato de tê-los realizado, morrem simultaneamente.

Na próxima semana analisarei dois filmes com mesmo título: “Perfeitos desconhecidos”.






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