Jornalistas brasileiros participaram, neste domingo (03/05), do painel virtual “Pandemia e o papel da imprensa”, promovido pelo Instituto de Direito Público (IDP) e transmitido pelo canal da instituição no YouTube.
A mesa redonda teve entre os convidados Flávia Lima, ombudsman da Folha de S.Paulo; Cristiano Romero, colunista e editor-executivo do Valor Econômico; Guilherme Amado, colunista de Época e CBN; Lilian Tahan, diretora-executiva do Metrópoles; e Christina Lemos, repórter especial da Record.
A mediação do seminário virtual foi conduzida pelos professores Ney Bello, que é desembargador federal, e Rodrigo Mudrovitsch, além de pela comunicadora Gisela Mendonça, da Torre Comunicação e Estratégia.
Durante o evento, que se estendeu por quase quatro horas, os presentes debateram, entre outros temas, sobre fake news, democracia, liberdade de imprensa e de expressão e os desafios da profissão em tempos de crise mundial.
O painel foi aberto pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia. Ela defendeu a liberdade da imprensa e repudiou as agressões sofridas por jornalistas durante cobertura de manifestação em favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), neste domingo.
A ministra afirmou que quem ataca um jornalista ataca a democracia e “quem quer silêncio não quer democracia”. Cármen Lúcia defendeu o combate às fake news e ao uso de robôs para disseminar notícias falsas.
O também ministro do STF Gilmar Mendes fez uma participação durante a aula magna da ministra Cármen Lúcia e reforçou o sentimento de repúdio à agressão contra os jornalistas em atividade justamente no dia em que se comemora a liberdade de imprensa.
“Também de se lamentar estes episódios. A agressão a cada jornalista é agressão à liberdade de expressão e agressão à própria democracia e tem que ser claramente repudiado”, pontuou Gilmar Mendes.
Em um dos momentos de mediação, o professor e desembargador federal Ney Bello questionou a ministra Carmen Lúcia se existia limite para a imprensa, dentro de um estado democrático, no processo de desconstruir publicamente, ou ajudar a desconstruir, alguma posição ou pessoa.
“Qual seria o limite, em um estado democrático, e como trafegar com isto, com a possibilidade de desconstruir ou de ajudar a desconstruir alguma posição, ou o outro, a partir da imprensa? Como isso pode ser tratado?”, questionou Ney Bello.
“Sou a favor de ser livre e não fazer restrições à liberdade de imprensa. Começa hoje com o discurso de que é para não permitir que não haja desconstrução e aí não tem mais limite. Depois que se põe uma cunha nisso, eu sempre acho que fica fácil, ou, pelo menos, fica facilitado algum caminho para ir se cavando espaços nos quais não se admite a plena liberdade de atuação”, respondeu Cármen Lúcia.
E enfatizou: “Não é possível que alguém, por que pensa diferente, por que não pensa aquilo que o outro, que detém o poder público ou privado, não possa se expor, se opor. Aquele que contraria o espaço de liberdade do outro, contraria a democracia”.
Os desafios do jornalismo em meio à crise
A ombudsman da Folha de S.Paulo, Flávia Lima, afirmou que um dos indicadores da importância do jornalismo profissional no ambiente da crise mundial é o aumento expressivo da audiência experimentado por empresas de comunicação.
“Nunca se buscou tanta informação e informação de qualidade. Mas o papel da imprensa não mudou, continua sendo oferecer à população informação checada e rechecada, que explique ao leitor o que é esta doença, os riscos e os efeitos sociais e econômicos que a pandemia pode trazer e as estratégias das autoridades públicas em relação à crise”, disse Flávia Lima.
Lilian Tahan, diretora-executiva do Metrópoles, afirmou que o papel do jornalismo dentro ou fora do contexto de uma pandemia sempre será o de apurar os fatos, checar as informações, ouvir o contraditório e publicar tudo o que for relevante.
Mas a profissional pontua que a importância dos veículos em tempos de pandemia cresce na medida em que o serviço prestado por jornalistas profissionais interfere diretamente na qualidade vida das pessoas.
“Quando um veículo reporta, por exemplo, tragédias como um acidente de avião, um tsunami, um terremoto, vai mostrar aquele cenário de terra arrasada, procurar entender o que houve, cobrar respostas das autoridades. Mas esta atuação não vai mudar a realidade das pessoas que se foram. Numa tragédia dinâmica como esta que estamos enfrentando, os veículos que prestam serviço podem fazer a diferença na quantidade de pessoas que vão sobreviver”, afirmou Lilian Tahan.
Colunista e editor-executivo do jornal Valor Econômico, Cristiano Romero acrescentou que o contexto da pandemia reascendeu para a sociedade a importância do jornalismo profissional. Romero fez uma análise sobre as dificuldades por que passam as empresas de comunicação em meio à crise de saúde.
“Justamente no momento em que a gente vive uma espécie de tempestade perfeita no nosso setor, que a internet definitivamente abalou de forma absurda e estrutural os jornais e revistas, que perderam receita e já não têm como sobreviver com seus atuais planos de negócios, é que a gente ganha tanta importância, porque as pessoas precisam o tempo estarem bem informadas sobre a pandemia”, disse Romero.
Entre as participantes do debate, estava a repórter especial da TV Record Christina Lemos. A profissional comentou a disseminação das notícias falsas pelo WhatsApp e as agressões físicas sofridas por profissionais de imprensa neste domingo. Para Christina, as duas frentes são passíveis de reações institucionais. “Para tudo isso tem lei. Para tudo isso tem que haver uma reação. Não basta repúdio. É preciso reagir institucionalmente. Os agressores são identificáveis, você tem a fotografia dessas pessoas. As fake news são rastreáveis. É preciso reagir”, declarou.
Guilherme Amado, que é colunista da Revista Época e da CBN e também integra a diretoria da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), lembrou que a pandemia está expondo como existe “um choque muito grande entre o jornalismo, a informação de qualidade e a criação de uma narrativa falsa, com objetivos políticos”.
“Nós, jornalistas, mais do que nunca, somos importantes e temos o nosso trabalho reconhecido por muita gente. Reputo isso a uma consciência da necessidade de consumo do que a gente coloca na rua: informação. Essa capacidade que só o bom jornalista tem de se aprofundar nos fatos e mostrar os diversos lados, as diversas nuances, de apertar a ciência sobre a precisão de um assunto, numa crise sanitária é fundamental”, salientou Amado.
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