A CONCENTRAÇÃO POLÍTICA DESVINCULADA DA COMUNIDADE NO DF

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Salin Siddartha

Pensar em mecanismos que proporcionem uma democracia mais justa implica trazer as pessoas para a esfera pública, mas isso somente terá vez se os entes comunitários, os cidadãos, acreditarem e se envolverem; caso contrário, o oportunismo de mal intencionados governantes poderá utilizar-se de uma pseudodemocracia participativa para legitimar práticas autoritárias e de corrupção institucionalizada, conforme lamentavelmente se nota em falsas implementações de orçamentos participativos e de eleições de conselhos comunitários manipuladas inescrupulosamente por maus governantes, destituindo de significado a prática democrática, em casos em que a cidadania não se faz presente. Deve-se condenar a valorização gratuita expressa pela multiplicação de apetites egoístas dos indivíduos que termina por atacar a cidadania.

As enormes desigualdades são grandes ameaças à democracia a partir mesmo da concentração política desvinculada da comunidade. Há décadas que a concentração excessiva da renda gera a crise de representação do poder local no DF, inclusive dos partidos políticos no próprio nível dos diversos governos que têm sido eleitos para administrar o Distrito Federal, possibilitando às oligarquias a tomada de decisões sem consulta popular, mesmo no âmbito do Poder Legislativo distrital.

A democracia é indispensável à solução dos problemas da Capital, principalmente na defesa dos estratos sociais mais débeis, de baixos salários; entretanto é um paradoxo tentar fazer avançar a democracia enquanto a pobreza é extrema. É necessário que não se separe a política da economia e que se definam metas e indicadores para o desenvolvimento da democracia, de modo que as estratégias de desenvolvimento da cidade devam ser politicamente legitimadas pela sociedade local.

Em sucessivas décadas de existência do Distrito Federal, principalmente a partir de 1964, a relação entre democracia e desigualdade é de uma cada vez mais crescente exclusão política da comunidade; então, a principal tarefa do sistema político é impedir que democracia e desigualdade continuem a coexistir. Afinal, o ambiente democrático do DF não tem dado resposta à melhoria das condições de vida da população.

As grandes diferenças sociais impedem a participação da maioria da sociedade no cotidiano democrático. O principal desafio do poder local é transformar a democracia

para a parcela mais pobre da população em um contínuo processo decisório. Por outro lado, a diminuição da desigualdade passa, necessariamente, pela geração de renda e trabalho sem aumento dos gastos sociais, que já são elevados, principalmente quando se toma em consideração que a carga tributária brasileira é excessiva.

Cruzeiro-DF, 19 de junho de 2020

SALIN SIDDARTHA

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