A pandemia de Covid-19, doença causada pelo coronavírus, deu uma oportunidade que há muito tempo não se tinha: ficar em casa por mais tempo. Assim, a rotina intensa de shows, viagens e gravações, de repente, acabou e os músicos se viram em um momento de crise, que serviu de inspiração para o que eles sabem fazer: canções.
A popstar Taylor Swift, por exemplo, compôs, gravou e lançou o disco Folklore durante o período de isolamento social. O caso da americana encontra eco aqui no Brasil. Segundo levantamento divulgado pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), o número de composições no maior acervo brasileiro cresceu, no primeiro semestre de 2020, de 12,5 milhões para 13,7 milhões, um aumento de 9,6%.
Em números absolutos, os primeiros seis meses de 2020 registraram 1,2 milhão de novas músicas no cadastro do Ecad. Já no ano passado, no mesmo período, o número foi de 965 mil novos singles. Variação positiva de 24,3%. O motivo desse surto de criatividade está, diretamente, conectado com as medidas de combate à pandemia.
“Por estar mais em casa, com menos afazeres, os próprios cantores começaram a se voltar para o lado da composição, e os compositores que vive só disso aceleraram o ritmo de produção”, explica ao Metrópoles o influencer Renato Sertanejeiro, um dos maiores especialistas do mercado sertanejo brasileiro.
Teor das músicas
Saudade, tristeza, felicidade, agonia, ansiedade, depressão, estresse… a música serve para ilustrar qualquer momento vivido pela sociedade. Basta encontrar o single e as palavras corretos. Um levantamento feito pela agência de propaganda Leo Burnett em parceria com a MindMiners, mostrou que O Dia Em Que a Terra Parou, de Raul Seixas, é apontada pelos 1 mil entrevistados como a canção que mais descreve a pandemia do coronavírus, por exemplo.
Murilo Huff, responsável por mais de 280 composições no Ecad, explicou ao Metrópoles o processo criativo: “A gente não escreve só sobre o que estamos vivenciando, às vezes retratamos a experiência do outro, daquilo que observamos das outras pessoas ou de uma história. É claro que, quando é com a gente, fica bem mas fácil de compor, grandes emoções servem de inspiração”.
Já o cantor e compositor do Distrito Federal Hungria Hip Hop se sente mais confortável em retratar momentos do seu cotidiano. “A gente compõe e vive sentimento. Então, tudo que passamos vira música, letra, melodia, influencia no que vai ser passado para o papel”, argumenta.
“A composição depende muito do que você está passando, é uma coisa que vem de dentro, é muito relacionado com o momento vivido. Não estamos em uma época de alegria e, por consequência, tudo vai para um lado mais melancólico, romântico e de esperança. 70% [das composições] falam de amor, de esperança, de saudade, de liberdade. É tudo consequência do agora”, reforça Sertanejeiro.
Lançamentos
Ainda pensando na agenda de shows interrompidas, o mundo das lives ficou conhecido como novo normal em um cenário pandêmico. Acontece que o momento também indicou uma pausa nos lançamentos de novas canções. A falta de shows, o “termômetro” de receptividade do público, criou uma onda de nostalgia com apresentações focadas no tema “As Antigas”.
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“O artista não pode ficar sem divulgar material novo por muito tempo, se não a gente acaba caindo no esquecimento. Mas o momento não é dos melhores, até pelo fato de não podermos fazer show, onde a gente colhe os frutos da música lançada”, disserta Huff.
Sertanejeiro, sócio da empresa Fábrica de Hits, voltada para o marketing digital, considera que o público optou pelo efeito nostalgia que as músicas antigas ofertam, capazes de remeter a bons momentos: “As pessoas pararam de consumir Spotify e Deezer porque não tinham mais rotina, o consumo diminuiu e foi tudo para as lives, então não fazia sentido lançar coisas novas”, acredita.
Sertanejeiro ainda afirmou que haverá um estouro de lançamentos entre os meses de agosto e novembro, já que os artistas deixaram músicas guardadas esperando o momento certo de soltar. Além de novas canções, os cantores têm trabalhos já prontos ainda não divulgados por conta da pandemia.
Hungria seguiu por outro caminho e preparou um álbum completamente acústico, com violino, gaita e instrumentos mais leves e diferentes de sua música convencional. Segundo o rapper, Cheiro do Mato estreia em respeito ao momento vivido: “Acho que as pessoas estão escutando mais música. Música é vida, faz a gente chorar, ter fé, acreditar. As pessoas estão com tempo para entender mais a letra”.
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