Transplantes suspensos

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O Banco de Olhos de Sorocaba (BOS) é referência nacional em oftalmologia e no transplante de córneas. Sua capacidade de captação e de armazenamento de córneas foram fundamentais para que alcançasse essa posição, mas, desde a chegada da pandemia provocada pelo novo coronavírus, as captações precisaram ser interrompidas por determinação das autoridades da saúde.

Hoje, quase cinco meses depois, os estoques de córneas para transplantes estão zerados, impedindo que cirurgias sejam realizadas. Mais um problema — grave — criado pela pandemia.

A informação de que o BOS está com os estoques zerados de córneas foi divulgada na última sexta-feira. O hospital destaca ainda que os transplantes eletivos de córneas estão suspensos por determinação do governo.

Isso resultará num grande aumento da fila de espera para o procedimento. As medidas restritivas começaram no dia 23 de março deste ano, quando foram adotados novos protocolos para captação de órgãos e tecidos.

Essas determinações fizeram com que as captações caíssem até perto de zero. Em julho deste ano, a captação na região atendida pelo hospital baixou para 2% da média para o período.

O BOS informa ainda que no que se refere especificamente aos tecidos, que abrangem as córneas, somente podem ser captadas aquelas cujo doador tenha constatada morte encefálica.

A interrupção desses procedimentos certamente deve causar enorme frustração nas pessoas que estão na fila de transplante, à espera de uma cirurgia que lhes devolva a visão plena.

A pandemia também provoca outro problema grave, o aumento da fila de pessoas que precisam de transplante. Antes da pandemia e da interrupção da captação de córneas, a fila para quem precisava de transplante era de dez meses.

Hoje, com o período de paralisação, o prazo passou para 55 meses, ou cinco anos. Havia 2.500 pessoas esperando por um transplante e hoje são quase 3.200.

Apenas na região de atuação do BOS, o número de pessoas inscritas subiu de 478 para 747. A própria direção do hospital informa que antes da pandemia eram realizadas 1.236 captações no Estado, sendo 930 pelo BOS.

No mês de julho, por conta das restrições, foram feitas 94 captações no Estado e 20 pelo BOS. Com isso, chegamos a uma situação inusitada, que nunca foi enfrentada nos 40 anos de funcionamento da instituição. E essa situação leva também à falta de córneas para eventuais transplantes de urgência.

O Banco de Olhos de Sorocaba, uma entidade filantrópica, fará 41 anos no mês que vem e é considerado o maior captador de córneas do País.

Começou com um modesto sistema de captação de córneas, principalmente no Conjunto Hospitalar de Sorocaba, e com campanhas para conseguir doadores na cidade.

As córneas captadas inicialmente eram enviadas para serem transplantadas em hospitais de São Paulo. Alguns anos depois, o BOS já havia se tornado uma referência em captação e distribuição de córneas e em 1995 foi inaugurado o Hospital Oftalmológico de Sorocaba (HOS), voltado exclusivamente para essa especialidade.

Além de se destacar pelo volume de transplantes — a grande maioria realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) — a instituição ficou conhecida também pela tecnologia empregada nos procedimentos, resultado de milhões de reais de investimentos nos últimos anos.

Há dois anos, em relatório divulgado pela imprensa, informava que o hospital acumulava 80 mil córneas captadas e mais de 30 mil transplantes realizados no centro cirúrgico do hospital que empregava mais de 200 médicos, responsáveis por mais de 30 mil atendimentos por mês.

Mutirões de transplante realizados em diversas ocasiões serviram para diminuir consideravelmente a fila de pessoas que aguardam pelo procedimento médico.

Com a pandemia de Covid-19 alterando as prioridades de atendimento médico e com a suspensão de vários procedimentos, o BOS aguarda agora uma definição do Sistema Estadual de Transplantes para a retomada de atividades, tanto de captação como de transplantes de córnea.

E o governo estadual informa que, devido à pandemia, novos protocolos e medidas de segurança foram adotados, para que novas cirurgias possam ser realizadas.

De toda maneira, com o retorno lento das atividades de captação e de transplantes, a instituição e a própria comunidade terão que se mobilizar para conseguir novos doadores.

Toda tecnologia do BOS e todo o conhecimento acumulado pelos profissionais da instituição não podem ficar subutilizados, mesmo porque haverá uma fila imensa de necessitados de transplantes nos próximos meses e anos.

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