Associar cores a campanhas de conscientização se transformou em uma forma de chamar atenção da população sobre diversos temas. O uso crescente dessa estratégia fez com que diversos meses do ano passassem a ser identificados por diversas cores, como é o caso de setembro, que ganhou outras tonalidades além do amarelo, utilizado para identificar o combate ao suicídio.
A campanha “Setembro Verde” foi criada com o objetivo de sensibilizar as pessoas sobre a importância da doação de órgãos. Em plena pandemia do novo coronavírus, ações como essa se mostram ainda mais necessárias. Dados da Central de Transplantes do Estado de São Paulo indicam que, no primeiro semestre de 2020, foram realizados 2.680 transplantes. No ano passado, no mesmo período, o número era 4.032.
O nefrologista Vinícius Paulon apontou dois motivos para a redução desse índice. Um deles é o fato de muitos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) terem sido reservados para o tratamento de pacientes com Covid-19. “Pacientes com morte encefálica que podem vir a ser doadores precisam ser mantidos na UTI e a pandemia inviabilizou a manutenção do paciente nesses leitos”, detalhou.
O segundo motivo que pode explicar a redução dos transplantes é a necessidade que os receptores de órgãos têm de serem submetidos a medicamentos imunossupressores, que reduzem a imunidade. “Tornou-se complexo fazer isso durante a pandemia, pois não daria para correr riscos em uma UTI com paciente em tratamento para Covid”, afirmou.
Independente da pandemia, o nefrologista disse que campanhas como o “Setembro Verde” são fundamentais e deveriam ser feitas com mais regularidade. “Falando, por exemplo, sobre transplantes renais, o Brasil é o 30º no ranking de doadores, muito atrás da Espanha, que é a primeira colocada e tem políticas e uma cultura grande de doações. Mesmo assim, percebemos que a conscientização aumentou e vemos hoje um gráfico crescente”, disse.
Paulon frisou que ainda existe falta de informação sobre o tema no país. Um dos motivos de dúvidas é sobre a manifestação de uma pessoa que deseje ser doadora de órgãos. “Não há um modo oficial no Brasil. A pessoa pode manifestar o desejo aos familiares ou, então, deixar esse posicionamento por escrito”, completou.
Na região de Sorocaba, o Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) e o Hospital Regional de Sorocaba Adib Domingos Jatene atuam na captação de órgãos. Neste ano, o CHS já captou 63 órgãos, entre fígados, rins, corações, pulmões e pâncreas. Já no Hospital Regional, foram 32 múltiplos órgãos captados.
Setembro Roxo
O mês de setembro também passou a ser identificado pela cor roxa para chamar atenção para a fibrose cística, doença rara e ainda pouco conhecida no país, que acomete um a cada 10 mil nascidos vivos no Brasil.
A fibrose cística é uma doença genética, caracterizada pela secreção do organismo mais espessa que o normal, o que dificulta a eliminação. De acordo com o Unidos Pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística, que realiza campanhas do “Setembro Roxo” pelo país, homens e mulheres são acometidos na mesma proporção.
O mote da campanha deste ano, entitulado “A Gente Entende”, traz uma relação entre os cuidados de quem tem a doença com a prevenção do coronavírus. “O uso de álcool em gel, máscaras e o isolamento social são grandes aliados das pessoas com fibrose cística há muito tempo. São cuidados que tomamos desde que recebemos nosso diagnóstico e que, com a pandemia, tornaram-se comuns à população”, declarou Verônica Stasiak Bednarczuk, fundadora do instituto e diagnosticada com fibrose cística aos 23 anos.
O diagnóstico é feito pelo Teste do Pezinho, entre o terceiro e o sétimo dia de vida de uma criança. Ainda é necessário um exame conhecido como Teste do Suor, que pode ser feito em qualquer etapa da vida, ou testes genéticos. O mês foi escolhido por abrigar o Dia Nacional de Conscientização e Divulgação da doença e do Dia Mundial, lembrados, respectivamente, nos dias 5 e 8 de setembro. (Erick Rodrigues)
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